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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II
 A CABO VERDE, GUINÉ-BISSAU, MALI E BURKINA FASO

[25 DE JANEIRO - 1º DE FEVEREIRO]

DISCURSO DO SANTO PADRE
 POR OCASIÃO DA INAUGURAÇÃO
DO EDIFÍCIO DO SEMINÁRIO MENOR

Bissau, 27 de Janeiro de 1990

 

Senhor Bispo, Reverendos Padres,
caros seminaristas da Diocese e da Família Franciscana
e membros da Comissão das Vocações
,

1. A todos os presentes, as minhas cordiais saudações, com especial referência aos Superiores e professores deste Seminário, às jovens da Casa de Formação feminina, ao pessoal missionário e a todos os amigos desta instituição. Congratulo-me no Senhor com esta Comunidade diocesana e com o seu Pastor, pela obra que hoje tenho o gosto de inaugurar e benzer, e que corresponde a uma disposição da vontade de Deus, concretizada pela Igreja.

Com efeito, Deus continua a chamar os seus colaboradores, no íntimo das consciências; e quer que eles sejam preparados para a missão, como foram preparados os Apóstolos. Para tanto, Mãe e Mestra, com muita experiência, a Igreja vê nos seminários o meio melhor para a preparação daqueles a quem, um dia, por intermédio do Bispo ordenante, será reconhecida a vocação interior, com a vocação pública às sagradas Ordens.

E vós, queridos seminaristas, entrastes nessa fase de preparação. Sois neste momento como o pequeno Samuel: alguém que está a procurar identificar, esclarecer e aceitar o sublime chamamento do Senhor: “ Falai, Senhor, que o vosso servo escuta ” (1 Sm 3, 10).

2. Ao entrar neste edifício, depara-se, logo no átrio, com três inscrições muito significativas. Conhecei-las bem; e já vos deveis ter apercebido de que elas encerram todo um programa de preparação para o serviço missionário na Igreja: “ Bô bim nha tras: n’na bim fassi bós piscaduris di pecaduris ”; depois, “ Bô firmanta um utro ”; e, finalmente, “ Bô bai pa tudo mundo ”.

São outros tantos convites, que o Senhor vos dirige; e, da vossa parte, existe a responsabilidade de dar resposta a cada um deles. Uma resposta concreta, efectiva, generosa; aberta às exigências e às necessidades urgentes da população da vossa terra; e aberta aos instantes apelos de tantas almas, que esperam pela verdade de Cristo ou se interrogam sobre a mensagem do Evangelho.

Na realidade, ser sacerdote, ser missionário significa ter escutado, como Pedro, o convite a deixar tudo e a seguir Cristo, confiando unicamente na sua promessa tranquilizadora: “ Não tenhas medo, farei de ti pescador de homens ”.

3. Na oração e na meditação, durante estes anos em que vos preparais para o futuro, para servirdes na difusão do Reino de Deus, tende sempre presente esse diálogo entre Pedro e Jesus. Que haja no vosso íntimo o desejo de falar com Cristo sobre a missão que vos espera; falar-Lhe da escolha que estais a fazer e para a qual vos preparais, em atitude de quem confia na graça do Senhor; falar-Lhe das coisas que Ele nos indicou no “ Pai-Nosso ” e no Cenáculo, durante a última Ceia. Tende um coração aberto para fazerdes o dom da vossa vida a essa missão! E procedei com humildade, bem conscientes de que o serviço sacerdotal é deveras exigente e que a entrega aos outros levar-vos-á a ter de enfrentar situações complexas e difíceis.

Vivei a união com Cristo, com fé ardente, na oração, para poderdes sempre encontrar n’Ele a força necessária para perseverar e vos tornardes, como Ele, “ homens para os outros ”. Ele continua a convidar e a propor a cada um de vós: “ Farei de ti pescador de homens ”.

4. “ Bô firmanta um utro ”. Ajudai-vos uns aos outros! Isto é, procurai viver a caridade, na comunhão com toda a Igreja: com a Igreja que dá testemunho de Cristo na Guiné-Bissau, muito atentos às exigências que ela está a sentir; e também com a Igreja universal, de que sois parte viva e activa. A vossa habilitação para anunciar o Evangelho depende da vossa adesão à fé dos Apóstolos, da vossa comunhão, mediante a doutrina da Igreja, com o testemunho daqueles que encontraram e amaram o Mestre.

Procurai também, desde já, viver a caridade fraterna naqueles moldes que a vida sacerdotal e a cooperação no ministério pastoral exigem. Essa caridade há-de ser a força da vossa futura missão. Ela terá um óptimo apoio na verdadeira amizade, inspirada no exemplo de Cristo e na sua familiaridade com os Apóstolos: “ Vós sois meus amigos ”.

A vossa caridade sacerdotal há-de exprimir-se, desde agora, em todas as formas de entreajuda e colaboração, que achardes possíves e oportunas, sob a orientação dos vossos formadores: do apoio espiritual ao conforto nas dificuldades e à ajuda concreta e material, quando for necessário. Sede, pela vossa caridade recíproca, um reflexo da Igreja, que se constrói como comunidade cristã na unidade de uma só fé, alimentada com a Palavra de Deus e com a força do único Pão de vida, que é a Eucaristia.

5. “ Bô bai pa tudo mundo ”. Ide por todo o mundo! Fazendo parte da Igreja universal, também vós sereis enviados a todos os homens, na sua universalidade concreta, a qual, na vossa terra, se exprime como pluralidade de homens e de mulheres que pertencem a diversos grupos étnicos e seguem doutrinas e cultos diversos. Sereis enviados, antes de mais, como pastores dos irmãos na fé: daqueles que, em coerência, vivem o seu Baptismo, e também dos que só às vezes voltam a reflectir sobre a palavra de Cristo e a participar ocasionalmente nos mistérios que a Comunidade inteira celebra. Sereis enviados, depois, aos irmãos muçulmanos “ que adoram o único Deus, vivo e subsistente, misericordioso e omnipotente, criador do Céu e da terra (Nostra Aetate, 3)”; também eles precisam de conhecer Jesus Cristo.

Sereis enviados, em particular, para o campo que mais se abre à esperança da Igreja nesta terra: àqueles que ainda não conhecem Deus verdadeiro, nem seu Filho Jesus Cristo, Redentor do homem; mas que, em geral, se mostram receptivos à Igreja, respeitam e apreciam a sua caridade e as suas iniciativas de promoção humana, e dela esperam luz: a grande luz da revelação que se cumpriu em Cristo.

Viveis num ambiente missionário. Bem sabeis que o amor e o conhecimento íntimo que tendes de Cristo despertaram em vós o profundo desejo de dá-l’O a conhecer e de O tornar amado. Perseverai nesse propósito, invocai Nossa Senhora, “ Estrela da evangelização ” e guia e mestra da peregrinação na Fé; e, com confiança, pedi ao Senhor que mande, juntamente convosco, muitos outros trabalhadores para a messe, pois o campo que vos espera é imenso. Com estes sentimentos, de todo o coração, dou-vos a minha Bênção Apostólica.

 



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