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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II A PORTUGAL
(10-13 DE MAIO DE 1991)

 CERIMÓNIA DE BOAS-VINDAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

 Aeroporto Internacional Portela de Lisboa
Sexta-feira, 10 de Maio de 1991

 

Excelentíssimo Senhor Presidente da República
Ilustríssimo Senhor Primeiro-Ministro
Eminentíssimo Senhor Cardeal-Patriarca de Lisboa
Senhores Bispos
Amados Irmãos e Irmãs!

1. Com grande alegria volto a este Portugal bem-amado, acedendo de todo o coração ao convite das Autoridades Civis, com Vossa Excelência à frente, Senhor Presidente da República, e do Eminentíssimo Cardeal-Patriarca, em nome dos Bispos portugueses, para visitar algumas regiões deste País, em especial as Dioceses de Angra do Heroísmo, no Arquipélago dos Açores, e do Funchal, no Arquipélago da Madeira, que não pude visitar em 1982.

A todos dirijo a minha saudação respeitosa e amiga. Alarga-se o meu espírito a todos os recantos e filhos desta Terra de Santa Maria: é meu desejo que todos me sintam próximo de suas pessoas e vida, como mensageiro da Boa Nova da Salvação e do Amor de Deus. Desejo sobretudo que os pobres, os doentes, os velhinhos e os mais abandonados sintam o encorajamento da minha prece e do meu coração que daqui os abraça.

Obedecendo à ordem de Jesus Cristo, dada ao Apóstolo Pedro de apascentar as ovelhas do Seu Rebanho (Cf. Jo 21, 16), venho para servir especialmente a causa espiritual e religiosa do homem - todo o homem e mulher que aqui, com a solicitude paterna de Deus, realiza a sua vocação na História; venho para servir a Igreja que, nesta Nação, edifica e consolida a unidade católica do Povo do Senhor pelo anúncio e realização da dignidade transcendente e da gloriosa liberdade dos Filhos de Deus; venho para confirmar os meus irmãos (Cfr. Lc 22, 32): mantê-los firmes na fé, encorajá-los na esperança, e fortalecer os vínculos da caridade.

2. Ser-me-á particularmente grato tomar contacto directo com as referidas Regiões Autónomas de Portugal, descobertas e povoadas pelo génio dos navegadores portugueses que levaram consigo a Luz do Evangelho que iluminou os sonhos, as experiências e as iniciativas das gerações passadas, e que tornou mais vigorosas as raízes da fé e da cultura, herdadas há séculos da Pátria comum, e confirmadas na grandeza dos esforços de cada dia das gerações presentes. De facto, é no trabalho, na solidariedade, na fidelidade às leis do sangue e da graça, que os Povos avançam. E tanto mais se desenvolverão na harmonia e na paz, quanto mais cultivarem os grandes valores em que foram educados.

3. Portugal nasceu cristão! As sucessivas gerações dos vossos maiores buscaram no Evangelho a inspiração para as suas vidas, e legaram-vos esta cultura constantemente enriquecida pelo cruzamento da fé cristã com as várias populações que fizeram a história da Europa e do Mundo. Queira Deus que a Visita, agora iniciada, seja ocasião para escutar mais atentamente a Mensagem Cristã, e que a vossa existência pessoal, familiar e social se deixe renovar pela força da Verdade e dos ideais superiores que tornam ilustre uma Nação.

Um dia, Portugal foi púlpito da Boa Nova de Jesus Cristo para o mundo, levada para longe em frágeis caravelas por arautos impelidos pelo sopro do Espírito. Hoje venho aqui para, da mesma tribuna, convocar todo o Povo de Deus à evangelização do mundo, tanto no sentido de se conformarem cada vez mais com o Senhor aqueles que já O conhecem, como também de levarem o Primeiro Anúncio às multidões inumeráveis de homens e mulheres que ainda desconhecem a salvação de Cristo.

Irmãos amados, as vossas vidas, iluminadas há séculos pelo cristianismo, hesitariam comprometer-se hoje com Ele, numa nova e gloriosa página da vossa história? Se não podeis ser felizes longe de Deus, tão-pouco o sereis longe dos homens. Que cada um de vós se torne hoje testemunha audaz do Evangelho de Jesus Cristo, ao encontro de tantas vidas famintas de Deus! Portugal, convoco-te para a missão.

4. Perante as convulsões que sacodem aqui e além os diversos Continentes, face ao ritmo apressado da substituição de coisas e de valores, abalando as certezas e até a vida das nações, faço minha a esperança de Santo Agostinho, diante do assalto dos Vândalos à cidade de Hipona, quando um grupo alarmado de cristãos da sua Igreja o procurou: “Não tenhais medo, queridos filhos! - sossegou-os o Santo Bispo - Isto não é um mundo velho que acaba, é um mundo novo que começa”.

Uma nova aurora parece despontar no céu da História, convidando os cristãos a serem luz e sal de um mundo que tem enorme necessidade de Cristo, Redentor do homem.

5. Venho a Portugal igualmente para me dirigir pela segunda vez a Fátima, a fim de agradecer a Nossa Senhora a protecção dada à Igreja nestes anos, que registaram rápidas e profundas transformações sociais, permitindo abrirem-se novas esperanças para vários povos oprimidos por ideologias ateias que impediam a prática da sua fé.

Leva-me ainda a esse santuário o desejo de renovar a minha gratidão pela especial protecção da Virgem Mãe que me salvou a vida no atentado de há dez anos, mais precisamente em 13 de Maio de 1981 na Praça de São Pedro.

Com alegria, elevarei o meu canto do Magnificat, entoado com Maria, ao Senhor da História, que “derrama a sua misericórdia de geração em geração sobre aqueles que O temem” (Cf. Lc 1, 50). Agradeço desde já cordialmente a todos os que, longe ou perto, me acompanharem aos pés da Senhora, para reflectir na Mensagem de Fátima: um convite à conversão do coração, à purificação do pecado, à oração e à santidade de vida.

Confio à Senhora e Mãe de todas as gerações os bons propósitos e os caminhos desta geração que é a nossa - a geração dos séculos XX e XXI - para que decididamente se empenhe em refazer a sua fé. A todos vos abençoo, pedindo, por minha vez, a quantos o puderem e souberem fazer, que vos unais às minhas preces, para que o mundo volte a marcar encontro com o Evangelho, e Deus faça brilhar sobre todos os povos a Luz esplendorosa de Jesus Cristo.

 



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