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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II AO BRASIL
[12-21 DE OUTUBRO DE 1991]

DISCURSO DO SANTO PADRE
NO ENCONTRO COM AS CRIANÇAS NA BAIXA DO BONFIM

Salvador (Bahia), 20 de Outubro de 1991

 

Minhas queridas crianças,

1. Quantas vezes na minha vida li e ouvi as palavras de Nosso Senhor dizendo que “quem não se fizer parecido às crianças não entrará no Reino dos Céus” ( Mt 18, 3), e “quem colocar um obstáculo para uma criança cair, seria melhor ser jogado ao mar” ( Mt 18, 6). Quando, queriam afastar d’Ele as crianças, Ele reclamou: “ Deixem vir a mim as criancinhas” ( Mt 19, 14).

Por isso, eu, que sou indigno discípulo de Jesus e faço as vezes d’Ele na Igreja, fiquei feliz quando soube que as crianças do Brasil queriam me encontrar. Eu disse: “Deixem que elas venham ao Papa!”.

Estou ainda mais feliz porque são vocês, crianças da Bahia, que hoje se encontram comigo em nome de todas as crianças do Brasil. Digo então a Vocês: “ Crianças da Bahia, bom dia! Crianças do Brasil bom dia”!

2. Quero dizer-lhes, antes de tudo, que vocês são muitos importantes para o Papa. Importantes porque, aqui no Brasil vocês são muitas e formam grande parte da população. Vocês sabiam disto? Importantes porque são o futuro do Brasil, o futuro da Nação, importantes porque são também o futuro da Igreja. Vocês sabiam? Devem saber mais e mais!

O que é bonito em vocês, crianças, é que cada uma olha as outras crianças e dá as mãos, sem fazer diferença de cor, de condição social, de religião. Vocês dão as mãos umas às outras. Tomara que os grandes fizessem também como vocês e acabassem com toda discriminação. Só assim o mundo poderia encontrar a paz. Vocês querem a paz no mundo? Vocês querem um mundo em paz? Para serem realmente importantes, vocês precisam de uma família, de pais unidos, de um clima de amor e de paz. É preciso ajudar às crianças que nasceram e estão crescendo fora de uma verdadeira família. Mas é preciso também fazer alguma coisa para que todas as crianças vejam respeitado seu direito de terem pais unidos, irmãos que se amam, uma casa harmoniosa e feliz. Se vocês querem isso levantem a mão direita!

Para serem importantes, vocês precisam de escolas, onde todas, sem exceção, aprendam a ler e a escrever, a fazer as contas e tudo mais que é necessário para crescer na vida. Crianças que já vão à escola, vocês querem ser aplicadas e estudiosas para aprender muito? Vocês querem que as outras, que ainda não vão à escola, tenham boas escolas para estudar?

Para serem importantes, vocês precisam conhecer Jesus Cristo, precisam amá-l’O como seu maior amigo, rezar a Ele todos os dias sem falta. Se vocês querem isso, levantem agora a mão esquerda! Vocês precisam também aprender o Catecismo em casa, na escola e na Igreja, preparar-se para a Primeira Comunhão e para a Crisma.

Se vocês querem isso, levantem as duas mãos! Se ser criança é tão importante, então todas as crianças são importantes, todas as crianças são importantes, todas! Não pode nem deve haver crianças abandonadas. Nem crianças sem lar. Nem meninos e meninas de rua. Não pode nem deve haver crianças usadas pelos adultos para a imoralidade, para o tráfico de drogas, para as pequenas e grandes infrações, para a prática do vício. Não pode nem deve haver crianças amontoadas em centros de triagem e casas de correção, onde não conseguem receber uma verdadeira educação. Não pode nem deve haver, é o Papa quem pede e exige em nome de Deus e de seu Filho, que foi criança também Jesus, não pode nem deve haver crianças assassinadas, eliminadas sob pretexto de prevenção ao crime, marcadas para morrer! Vocês querem que todas as crianças sejam felizes? Querem uma cidade, um Estado, um País, sem crianças abandonadas e meninos e meninas de rua?

3. Falo agora aos adultos aqui presentes, na companhia de suas crianças, ou que ouvem minhas palavras, desta esplanada do Bonfim, para a Bahia e todo o Brasil. Creio que lhes falo em nome e por delegação dessas crianças.

Permitam-me, antes de tudo, manifestar à sociedade brasileira minha alegria e felicitações por dois eventos. Primeiro pela criação de um ministério da Criança. Faço votos que este órgão possa encontrar a criatividade e a agilidade necessárias, e os indispensáveis recursos, para levar remédio a todos os problemas que afligem a criança brasileira. Alegria e felicitações, em segundo lugar, pela promulgação, ainda recente, do Estatuto da Criança e do Adolescente. Pude acompanhar, com interesse, sua elaboração. Alegro-me por saber que esse Estatuto está em vigor, aprovado pelas duas Casas do Congresso Nacional e, portanto, por um certo consenso de todo o povo brasileiro. Ele não é uma panacéia nem pretende resolver todos os problemas. Devemos, porém, ter confiança de que, malgrado suas inevitáveis limitações, ele poderá ser útil para uma política social adequada em favor da criança e do adolescente. Faço votos de que ele inspire, em todos os níveis da comunidade brasileira, iniciativas eficazes, visando solucionar os problemas.

No campo da Igreja, minha alegria é constatar o dinamismo, com que estão atuando em todo o País, em grande número de Dioceses, a Pastoral da Criança e a Pastoral do Menor. Por isso, as palavras, há pouco proferidas pela Irmã Maria do Rosário, do Secretariado da Pastoral do Menor, a quem muito agradeço, atestam este dinamismo a esta hora. Distintas nos seus objetivos imediatos e nos seus métodos, estão forçosamente interligadas no serviço que prestam. Com prazer assinalo a criação recente, primeiro em Brasília e agora em Salvador, do Movimento Pró-Vida ao qual desejo e para o qual peço a bênção divina, a fim de que ele seja um instrumento válido e eficaz para diminuir o flagelo do aborto, promover e defender a vida desde a concepção, no ventre materno, até seu fim natural, dar amparo às gestantes e às mães em dificuldade, permitir uma qualidade de vida melhor para as crianças que nascem.

4. Desejo agora convidar a todos, cada qual no próprio âmbito humano, religioso, profissional, ou político, a assegurar alguns fatores capazes de reverter a triste situação de milhões de crianças brasileiras marginalizadas.

Primeiro, a educação básica de boa qualidade, dirigida à criança desde o pré-escolar. A educação da mulher em áreas carentes para que possa cumprir com competência sua missão insubstituível na família e na comunidade.

Segundo, a paternidade e maternidade responsáveis, ideal fortemente pregado por meu Predecessor Paulo VI, exclui métodos anticoncepcionais artificiais que não respeitam a dignidade das pessoas e dos casais. Por isso, nas suas iniciativas em favor de um crescimento normal e equilibrado da população, os poderes públicos não têm o direito de promover o aborto, a esterilização em massa, a propaganda indiscriminada de meios artificiais para limitar filhos. O planejamento por métodos naturais, contribui para a educação e o crescimento dos casais, sobretudo nos ambientes mais carentes. A exigência da paternidade e maternidade responsáveis deve ter um amparo legal eficiente. O nascituro tem o direito não só a nascer, mas a nascer fruto do amor responsável e não de uma aventura, a encontrar carinho, dedicação e proteção num lar bem organizado.

5. Em nome de Cristo, nosso Mestre e Senhor, convoco a todos a trabalhar em favor da criança!

Desculpem-me crianças! Eu precisava dizer umas coisas aos adultos, mas agora volto a falar para vocês. Se não entenderam o que eu disse aos grandes, não faz mal. O importante é que eles entendam! A vocês, quero dizer uma coisa muito séria, muito séria mesmo: o Papa ama, de todo coração, as crianças do Brasil!

Para mostrar a vocês como o Papa tem amor às crianças do Brasil vou fazer uma confidência. Faz alguns meses recebi uma importância em dinheiro, em decorrência do premio Artífice da Paz, que me foi atribuído. Então, tomei a decisão de destinar integralmente esta quantia para a infância abandonada do Brasil, entregando-a ao vosso querido Arcebispo, Cardeal Lucas Moreira Neves. A forma de contribuir para as iniciativas em prol das crianças mais necessitadas. E faço isso de todo o coração, porque o Papa tem um grande amor pelas crianças.

Quero ver vocês crescerem felizes! A alegria de vocês, o entusiasmo com que cantam, gritam e rezam, é a maior riqueza e a grande esperança do Brasil. Deus abençoe a todos! Nossa Senhora os proteja!

Para vocês, meu grande, grande abraço e minha Bênção!

Viva as crianças da Bahia!

Viva as crianças do Brasil!

Viva as crianças do mundo inteiro!

 



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