Index   Back Top Print

[ EN  - PT ]

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO SENHOR ALFREDO GONÇALVES TEIXEIRA
NOVO EMBAIXADOR DE CABO VERDE
JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO
DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS*

Sábado, 28 de Novembro de 1992

 

Senhor Embaixador,

E para mim motivo de particular satisfação receber as Cartas que o acreditam como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Cabo Verde junto da Santa Sé. Ao dar-lhe, pois, as minhas cordiais boas–vindas a este Acto de apresentação, começo por agradecer a nobre expressão dos sentimentos que o animam, desejando assegurar, desde já, a minha estima, no desempenho da elevada missão que o seu Governo lhe confiou, assim como reiterar, perante Vossa Excelência, o profundo afecto que sinto por todos os amados filhos do seu País.

O meu pensamento dirige-se, em primeiro lugar, para Sua Excelência o Senhor Presidente António Mascarenhas Monteiro: ficar-lhe-ia grato, Senhor Embaixador, se lhe exprimisse o meu reconhecimento pela deferente saudação, da qual Vossa Excelência se fez intérprete. Formulo os melhores votos para a sua pessoa, bem como para todos os que colaboram com ele no serviço da Nação.

Durante a minha Visita Pastoral, em Janeiro de 1990, cujo eco –  referia amavelmente o Senhor Embaixador – se estendeu e perdura vivo mesmo nas aldeias mais distantes, pude apreciar os genuínos valores que adornam o povo cabo-verdiano, que na sua maioria se professa filho da Igreja Católica: o seu espírito acolhedor, generoso e solidário, a sua firmeza e capacidade de resistência perante a adversidade, as suas acendradas raízes cristãs, a sua filial dedicação ao Sucessor de Pedro. Mas, ao mesmo tempo, pude verificar os graves problemas que puseram e ainda põem à prova a têmpera daquela gente, dificultando a realização das suas legítimas aspirações: o bem-estar por todos compartilhado no aconchego familiar da sua terra amada.

Ao seu país, não faltam certamente recursos nem energia moral para uma participação comum de todos os cidadãos na edificação de um futuro sereno, como, aliás, os tempos sucessivos vieram demonstrar, no processo lá verificado de transição para a democracia pluralista, e que segui com particular interesse. Vossa Excelência recordou justamente a maturidade cívica de que deu provas o povo com as suas autoridades, ao conduzirem com êxito um tão amplo esforço de renovação política num clima de estabilidade social e no respeito das regras democráticas. Na actual fase histórica de afirmação dos valores democráticos em África, Cabo Verde foi um dos primeiros países a cumprir a passagem para uma efectiva democracia pluripartidária, e, pelo modo pacífico como o fez, constituiu um grande e importante exemplo para os outros países africanos.

Estes nobres objectivos prepararam – estou certo – o terreno para o verdadeiro crescimento e desenvolvimento da Nação, no qual o seu Governo se mostra empenhado. Na prossecução de um futuro mais próspero e feliz para o seu povo, que passa por uma harmoniosa conjugação de esforços de todos os concidadãos, Vossa Excelência e o Governo podem contar com o encorajamento e o apoio da Igreja, em especial da Santa Sé, assim como – espero vivamente – com a simpatia e a ajuda da comunidade internacional.

Aprecio a referência que o Senhor Embaixador fez ao papel desempenhado pela Igreja na sua pátria, promovendo o bem-estar do seu povo, e zelando pelo respeito da “identidade mais profunda da alma cabo-verdiana”: com efeito, ela participou com lealdade no processo de construção da nação, empenhando-se num diálogo respeitoso acerca de importantes questões que atingiam a vida nacional, e ocupando-se directamente de sectores críticos do progresso social, tais como a educação e a assistência sanitária. Pode, por isso, medir o quanto a Igreja Católica tem a peito a estabilidade e o desenvolvimento integral da sociedade de Cabo Verde: ela tem sublinhado, a este propósito, a importância de uma política que promova a vida, a unidade e a estabilidade da família, e que possibilite à juventude uma escola onde ela seja formada tanto para as responsabilidades que a aguardam como para os valores que a dignificam, nomeadamente os princípios éticos e a dimensão religiosa.

Como disse, à minha chegada à cidade da Praia: a Igreja “não sendo "estrangeira" em parte nenhuma, preconiza, onde se encontra implantada, o desenvolvimento integral do homem todo e de todos os homens... Para tanto não reclama privilégios; pede simplesmente que se respeite o espaço de liberdade que lhe cabe e que é direito inalienável daqueles a quem ela procura beneficiar” (Discurso de boas-vindas em Praia, Cabo Verde, 6, 25 de Janeiro de 1990). Na verdade, como Vossa Excelência bem sabe, a obra maior e mais delicada a construir é o próprio homem. A este empreendimento, a Igreja deseja oferecer, hoje como no passado, o contributo estimulante que lhe vem da Revelação acerca da dignidade humana e do verdadeiro sentido da vida e da história.

Senhor Embaixador,

No momento em que inicia as suas novas responsabilidades, no âmbito da comunidade diplomática acreditada junto da Santa Sé, auguro a Vossa Excelência os melhores êxitos na sua nobre missão, assegurando-lhe a disponibilidade dos vários departamentos da Cúria Romana, para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Invoco de todo o coração sobre Vossa Excelência e sua ilustre família, sobre o Senhor Presidente da República, o Governo e todo o querido povo de Cabo Verde, viva ele na sua pátria ou disperso pelo mundo inteiro, as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.


*Insegnamenti di Giovanni Paolo II, vol. XV, 2 p.767-769.

L'Attività della Santa Sede 1992 p. 819-820.

L'Osservatore Romano 29.11.1992 p.13.

© Copyright 1992 - Libreria Editrice Vaticana

 



Copyright © Dicastero per la Comunicazione - Libreria Editrice Vaticana