DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO SENHOR ÓLAFUR EGILSSON NOVO EMBAIXADOR
DA ISLÂNDIA JUNTO DA SANTA SÉ
POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
DAS CARTAS CREDENCIAIS
24 de Abril de 1997
Senhor Embaixador
Dá-me grande prazer aceitar as Cartas Credenciais com que Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Islândia junto da Santa Sé. Estou grato pelos bons votos que me dirigiu da parte do Presidente, Sua Excelência o Senhor Ólafur Ragnar Grimsson, e do Governo e Povo da Islândia, e é de bom grado que lhos retribuo com a certeza das minhas orações pelo seu País. A sua hodierna presença aqui constitui uma agradável recordação da minha Visita pastoral ao seu País em 1989. Durante essa Visita, tive a oportunidade de experimentar a sua singular beleza e as tradições de hospitalidade, generosidade e amor da justiça e da liberdade, das quais os habitantes da Islândia estão justamente orgulhosos.
Aprecio profundamente as suas observações acerca da contribuição que a Igreja católica tem oferecido à vida cultural, social e espiritual da Islândia. Mediante o seu divino Fundador, à Igreja foi confiada uma missão que é acima de tudo espiritual e religiosa, voltada para o destino transcendental e eterno da família humana. Ao cumprir esta missão através da sua actividade evangélica e religiosa, a Igreja permanece ao mesmo tempo decididamente empenhada na promoção do progresso dos povos, mediante as instituições sociais e educativas sob a sua gestão. Um aspecto essencial desta obra é a formação das consciências das pessoas nas verdades fundamentais e nos valores éticos que servem de fundamento para uma sociedade verdadeiramente digna do homem.
No mundo contemporâneo, um debilitamento da aderência a tais verdades e valores pode constituir uma ameaça concreta à coexistência pacífica e à colaboração criativa entre povos e nações, com os interesses imediatos e particulares que obscurecem a solicitude pelo bem mais amplo da família humana no seu conjunto. A Igreja está convencida de que os problemas complexos e graves que atingem a paz no mundo só se podem resolver se as pessoas respeitarem as normas morais universais, inscritas por Deus no coração humano, e se os líderes governarem em conformidade com as mesmas. Estas normas constituem a guia mais segura da humanidade para a renovação genuína da vida social e política.
Através do seu empenhamento na comunidade internacional, a Santa Sé procura contribuir para uma consciência mais ampla de determinados direitos humanos universais que promanam da própria natureza da pessoa, com o correspondente dever moral da parte de cada um, de os promover e respeitar. Na véspera de um novo Milénio, devem-se despender renovados esforços para garantir estes direitos nas leis das nações e nos acordos internacionais, de modo especial para o benefício dos membros mais vulneráveis e ameaçados da sociedade. O cuidado dos desabrigados, refugiados, portadores de deficiência, idosos e doentes terminais — cuidado que se fundamenta sobre o profundo respeito pela sua dignidade humana — constitui uma autêntica medida de vida civilizada. A Igreja católica há-de continuar a servir o bem comum através das suas inumeráveis actividades educativas, sociais e de assistência à saúde, declarando directamente a sua oposição às tentativas de legitimar qualquer acção «contra os princípios fundamentais do absoluto respeito da vida e da tutela de cada vida inocente» (Evangelium vitae, 72). Os católicos da Islândia estão empenhados em trabalhar em harmonia com os seus concidadãos, em prol do estabelecimento de uma civilização do amor, ou seja, em «construir um mundo de justiça, paz e amor, onde a vida e a igual dignidade de todos os seres humanos, sem discriminação, são defendidas e sustentadas» (Homilia, Reiquejavique, 4 de Junho de 1989; ed. port. de L’Osservatore Romano de 18.VI.1989, n. 4, pág. 4).
Outra questão a que Vossa Excelência se referiu, e que tem profundas implicações morais, é a necessidade de encontrar os meios para se pôr fim ao contínuo recurso à força como modo de resolver disputas. Para superar esta espiral de violência, toda a comunidade internacional deve trabalhar decididamente para criar um clima em que o diálogo é aceite como o único modo viável, responsável e ético de salvaguardar os direitos dos povos e das nações. Contudo, o diálogo só obterá bom êxito se for acompanhado de iniciativas específicas, destinadas a eliminar a transferência de armamentos para regiões altamente vulneráveis. Devem-se despender esforços decisivos para pôr fim ao escandaloso e imoral comércio de armas que viola as convenções internacionais e está intimamente ligado não só aos actuais conflitos, mas também ao terrorismo, ao crime organizado e ao tráfico de drogas. Este comércio ilícito torna-se ainda mais devastador quando se persuadem os países mais pobres a comprar armas de destruição enquanto não são capazes de prover aos próprios cidadãos as necessidades básicas da vida. Faço votos por que a Islândia continue e erguer a própria voz contra os perigos do comércio de armamentos — de maneira especial a difundida venda ilícita de todos os tipos de armas e de materiais militares — e em favor de normas internacionais legalmente vinculantes. Desejo repetir o que escrevi na minha Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1997: «É urgente desenvolver uma sólida “cultura da paz”, que previna e esconjure o desencadeamento incontrolável da violência armada, prevendo iniciativas que visem também impedir o aumento da indústria e do comércio das armas» (n. 4).
Senhor Embaixador, estou persuadido de que, ao cumprir as obrigações da sua sublime missão, os cordiais ?vínculos que existem entre a República da Islândia e a Santa Sé serão fortalecidos ulteriormente. Formulo-lhe os meus bons votos, assegurando que os departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos a assisti-lo. Sobre Vossa Excelência e sobre os seus compatriotas, invoco as abundantes bênçãos de Deus Todo-poderoso.
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