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VISITA PASTORAL ÀS DIOCESES DE CHIÁVARI E BRÉSCIA
 (18-20 DE SETEMBRO DE 1998)

SAUDAÇÃO DO PAPA JOÃO PAULO II
ÀS AUTORIDADES E À POPULAÇÃO
 NA CERIMÓNIA DE BOAS-VINDAS A BRÉSCIA

Sábado, 19 de Setembro de 1998

 

Prezados Irmãos e Irmãs de Bréscia!

1. Eis-me pela segunda vez no coração da vossa Cidade, nesta histórica Praça, que quisestes intitular ao meu venerado predecessor e vosso ilustre concidadão, o Servo de Deus Paulo VI.

Aqui, edifícios prestigiosos – a Catedral, tendo ao lado a antiga catedral românica, e o «Broletto» – evocam o vosso passado nobre e rico de história, mas sobretudo atestam o empenho de colaboração entre sociedade civil e religiosa e indicam, no encontro com Deus e no empenho moral e social, o segredo do caminho de civilização e de bem-estar realizado pela Cidade. Obrigado pelo afecto com que me acolhestes, reafirmando a antiga tradição de fidelidade da população bresciana ao Papa. Agradeço, em particular, ao Senhor Ministro Beniamino Andreatta as gentis expressões que me transmitiu em nome do Governo italiano. Além disso, dirijo o meu grato pensamento ao Senhor Presidente da Câmara Municipal, que se fez intérprete dos sentimentos cordiais e das alegres boas-vindas da inteira população. Saúdo o venerado Pastor da Diocese, D. Bruno Foresti e o seu Auxiliar, e dirijo um deferente pensamento ao Presidente da Região da Lombardia, assim como a todas as Autoridades que com a sua presença honram este encontro.

2. «Brixia Fidelis Fidei et Iustitiae». Este antigo lema sintetiza bem a identidade de Bréscia, que também os seus ilustres monumentos testemunham. Eles constituem o sinal visível dos valores transmitidos pelas gerações passadas e ainda hoje presentes nos corações e na cultura dos seus habitantes, e atestam uma admirável síntese de fé e de ordenada convivência, de amor à própria terra e de solidariedade com todo o ser humano. Nestes valores inspiraram-se os brescianos de ontem; a eles devem continuar a referir-se os de hoje, para assegurarem à sua Cidade um futuro de progresso autêntico.

O meu pensamento dirige-se aos missionários, homens e mulheres de alma grande, que aqui aprenderam a amar a Deus e o próximo e que, fortalecidos por esta experiência, levaram a várias partes do mundo o alegre anúncio do Evangelho, infundindo nova esperança e promovendo condições de vida mais dignas do homem. Penso nos Fundadores de Institutos religiosos e nos numerosos Sacerdotes, que na vossa terra foram zelosas testemunhas de Cristo e verdadeiros mestres de vida. Quereria também recordar com grande admiração todos os pais e mães que na fé profunda e operosa, no amor pela família e no trabalho honesto encontraram o segredo para construir o autêntico progresso da vossa terra. Nem quero esquecer o contributo tanto dos homens de pensamento como dos promotores das numerosas instituições culturais e caritativas que floresceram na terra bresciana, assim como dos artífices do desenvolvimento económico, que caracteriza a vossa Cidade e Província.

É precisamente nesta perspectiva que, no decurso da minha primeira visita, eu vos dizia: «Bréscia possui um precioso património espiritual, cultural e social, que deve ser zelosamente conservado e incrementado com vigor, pois ele, assim como no passado, constitui também hoje o pressuposto indispensável para um sábio ordenamento civil e um autêntico desenvolvimento do homem» (Insegnamenti di Giovanni Paolo II, V/3 [1982], 577).

Como sublinha a mencionada inscrição esculpida na fachada da «Loggia», a construção de um futuro de civilização e de progresso requer um dúplice e inseparável empenho de fidelidade: ao Evangelho, raiz preciosa e vital da vossa convivência civil, e à humanidade concreta e palpitante, isto é, ao homem «que pensa, ama, trabalha e espera sempre alguma coisa» (Insegnamenti di Paolo VI, II [1964], 729). Isto comporta o empenho por encarnar na vida pessoal e comunitária os princípios religiosos, antropológicos e éticos que brotam da fé em Jesus Cristo, a contínua vigilância diante das rápidas mudanças e dos desafios inéditos do tempo presente, a coragem de traduzir a inspiração evangélica em obras, iniciativas e instituições capazes de responder às necessidades autênticas da pessoa humana e da sociedade.

3. Nessa tarefa, árdua e exaltante, é para vós mestre o meu venerado Predecessor Paulo VI, a quem vim prestar homenagem na conclusão das celebrações do centenário do nascimento, nesta Cidade à qual ele se sentiu sempre honrado de pertencer «por nascimento e por afecto jamais diminuído», como certa vez teve ocasião de dizer (Insegnamenti di Paolo VI, XV [1977], 1185).

Ele foi guia seguro da barca de Pedro em tempos não fáceis para a Igreja e para a humanidade, animado sempre por um forte e profundo amor a Cristo e pelo desejo ardente de O anunciar aos contemporâneos, com frequência desorientados diante de doutrinas e eventos novos e prementes. A recordação da sua personalidade de homem de Deus, do diálogo e da paz, de pessoa firmemente ancorada na fé da Igreja e sempre atenta às esperanças e aos dramas dos seus irmãos, torna-se sempre mais viva com o passar do tempo e oferece um precioso encorajamento também aos crentes de hoje.

Misteriosos são os elementos que unem a grandeza e a excepcionalidade de uma pessoa às suas raízes e ao talento de um povo, mas parece evidente que a Terra bresciana com a sua fé, cultura, história, angústias e conquistas ofereceu um contributo determinante à sua formação humana e religiosa. Nesta comunidade, da qual conservou sempre no coração a grata recordação e a doce saudade, o jovem Montini encontrou um clima ardente e rico de fermentos novos, assim como válidos mestres que souberam suscitar nele o interesse pelo saber, a atenção aos sinais dos tempos e, sobretudo, a busca da sabedoria que nasce da fé, qualidade preciosa para exercer as graves tarefas para as quais a Providência o haveria de chamar.

4. Testemunha singular do contexto religioso, cultural e social, que tanto influiu na formação do futuro Paulo VI, foi o Servo de Deus José Tovini, que amanhã terei a alegria de proclamar Beato, precisamente aqui em Bréscia, onde ele desenvolveu a sua actividade e testemunhou, com uma vida admirável, as imprevisíveis possibilidades de bem de que é capaz o homem que se deixa atrair por Cristo.

Este leigo, pai de família solícito e profissional rigoroso e atento, morria precisamente no ano em que nascia João Baptista Montini. Ele pediu aos católicos que afirmassem os valores do Evangelho na sociedade, através da criação de obras educativas e sociais, círculos culturais, comités operativos e singulares iniciativas económicas.

Num tempo em que alguns pretendiam confinar a fé dentro das paredes dos edifícios sagrados, José Tovini testemunhou que a adesão a Cristo e a obediência à Igreja, longe de afastarem o crente da história, o impelem a ser fermento de autêntica civilização e de progresso social. Ele foi apóstolo da educação cristã e expoente de relevo daquele movimento católico que marcou fortemente a inteira sociedade italiana no final do século XIX.

5. Caríssimos brescianos! As luminosas figuras de Paulo VI e de José Tovini, orgulho da vossa Terra, constituem para vós uma herança preciosa, que vos exorto a acolher com renovado amor, para fazerdes também hoje dos valores cristãos o centro propulsor de um original projecto cultural, humano e civil, digno da vocação da vossa Terra.

Caminhai com coragem pelas estradas da verdade e da justiça. Sede sempre confiantes e arrojados na busca e na construção do bem. Cristo, o Redentor do homem, seja a vossa esperança!

 E tu, Bréscia, «Fidelis Fidei et Iustitiae », descobre este rico património de ideais que constitui a tua riqueza mais verdadeira, e tornar-te-ás capaz de ser centro vivo de irradiação da nova civilização, a civilização do amor, almejada pelo teu grande filho Paulo VI!

Invocando a protecção de Nossa Senhora das Graças, venerada no Santuário da cidade tão querida ao Papa Paulo VI e aos brescianos, de coração concedo a todos a minha Bênção.

 



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