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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II
AO MÉXICO E ESTADOS UNIDOS

MENSAGEM DO SANTO PADRE AOS DOENTES  

 

Queridos Irmãos e Irmãs! 

1. Como noutras viagens pastorais em todas as partes do mundo, também nesta minha quarta visita ao México, desejei compartilhar convosco uns momentos na oração e na esperança, queridos doentes hospitalizados neste Centro que tem o nome de «Doutor Adolfo López Mateos», e por meio de vós com todos os demais doentes do País. Quero assegurar-vos o meu afecto e, ao mesmo tempo, associo-me à vossa oração e à dos vossos entes queridos, pedindo a Deus, por intercessão da Santíssima Virgem de Guadalupe, a conveniente saúde do corpo e da alma, a plena identificação dos vossos sofrimentos com os de Cristo e a busca dos motivos que, baseados na fé, nos ajudam a compreender o sentido do sofrimento humano. 

Sinto-me muito perto de cada um dos que sofrem, assim como dos médicos e demais profissionais da saúde que prestam o seu abnegado serviço aos doentes. Quereria que a minha voz ultrapassasse estas paredes para levar a todos os doentes e operadores no campo da saúde a voz de Cristo, e oferecer assim uma palavra de consolo na enfermidade e de estímulo na missão da assistência, recordando de modo muito especial o valor que tem o sofrimento no contexto da obra redentora do Salvador. 

Estar convosco, servir-vos com amor e competência não é apenas uma obra humanitária e social, mas sobretudo, uma actividade eminentemente evangélica, pois o próprio Cristo nos convida a imitar o bom samaritano que, ao encontrar no seu caminho o homem que sofria, «não passou adiante», mas «encheu-se de piedade, aproximou-se, ligou-lhe as feridas [...] e cuidou dele» (Lc 10, 32-34). São muitas as páginas do Evangelho que nos descrevem o encontro de Jesus com pessoas afligidas por diversas enfermidades. Assim, São Mateus nos diz que «Jesus começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando a Boa Nova do Reino, e curando entre o povo todas as doenças e enfermidades. A Sua fama estendeu-se por toda a Síria e traziam-Lhe todos os que sofriam de qualquer mal, os que padeciam de males e de tormentos, os endemoninhados, os lunáticos e os paralíticos; e Ele a todos curava» (4, 23-24). São Pedro, seguindo os passos de Cristo, junto da Porta Formosa do Templo, ajudou um coxo a caminhar (cf. Act 3, 2-5) e enquanto se difundiu a voz do ocorrido, «traziam os doentes para as ruas e colocavam-nos em enxergas e catres, a fim de que, à passagem de Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles» (ibid., 5, 15-16). Desde as suas origens, a Igreja, movida pelo Espírito Santo, quis seguir os exemplos de Jesus neste sentido, e por isso considera que é um dever e um privilégio estar ao lado daquele que sofre e cultivar um amor preferencial pelos doentes. Por isso, escrevi na Carta Apostólica Salvifici doloris: «A Igreja, que nasce do mistério da redenção na Cruz de Cristo, tem o dever de procurar o encontro com o homem, de modo particular no caminho do seu sofrimento. É em tal encontro que o homem "se torna o caminho da Igreja"; e este é um dos caminhos mais importantes» (n. 3).

 2. O homem é chamado à alegria e à vida feliz, mas experimenta diariamente muitas formas de sofrimento, e a enfermidade é a expressão mais frequente e comum do sofrimento humano. Diante dele é espontâneo perguntar-se: Por que sofremos? Para que sofremos? Tem um significado o facto de as pessoas sofrerem? Pode ser positiva a experiência do sofrimento físico ou moral? Sem dúvida, cada um de nós ter-se-á posto mais de uma vez estas questões, quer no leito da dor, nos momentos de convalescença, antes de se submeter a uma intervenção cirúrgica, quer ao ver sofrer um ente querido.

Para os cristãos, estes não são interrogativos sem resposta. O sofrimento é um mistério, muitas vezes inescrutável para a razão. Faz parte do mistério da pessoa humana, que só se esclarece em Jesus Cristo, que é quem revela ao homem a sua própria identidade. Só a partir d'Ele poderemos encontrar o sentido a tudo o que é humano. O sofrimento - como escrevi na Carta Apostólica Salvifici doloris - «não pode ser transformado e mudado por uma graça que aja do exterior, mas sim por uma graça interior [...]. Este processo interior não se realiza sempre da mesma maneira [...]. Cristo, de facto, não responde directamente e não responde de modo abstracto a esta pergunta humana sobre o sentido do sofrimento. O homem percebe a Sua resposta salvífica à medida que se vai tornando ele próprio participante dos sofrimentos de Cristo. A resposta que lhe chega mediante esta participação... é, antes de mais nada, um apelo: "Segue-Me". Vem!, participa com o teu sofrimento nesta obra da salvação do mundo, que se realiza por meio do Meu próprio sofrimento! Por meio da Minha cruz» (n. 26). Por isso, diante do enigma do sofrimento, os cristãos podem dizer um decidido «faça-se, Senhor, a Vossa vontade» e repetir com Jesus: «Meu Pai, se é possível passe de Mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como Tu queres» (Mt 26, 39).

3. A grandeza e dignidade do homem consistem em ser filho de Deus e estar chamado a viver em íntima união com Cristo. Essa participação na Sua vida requer a compartilha do Seu sofrimento. O mais inocente dos homens - o Deus que Se fez homem - foi o grande sofredor que carregou sobre Si o peso das nossas faltas e dos nossos pecados. Quando Ele anuncia aos Seus discípulos que o Filho do Homem devia sofrer muito, ser crucificado e ressuscitar ao terceiro dia, adverte ao mesmo tempo que, se alguém quiser vir após Ele, deve negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz de cada dia e segui-l'O (cf. Lc 9, 22 ss.). Existe, pois, uma íntima relação entre a Cruz de Jesus - símbolo da dor suprema e preço da nossa verdadeira liberdade - e as nossas dores, sofrimentos, aflições, penas e tormentos que podem pesar sobre as nossas almas ou lançar raízes nos nossos corpos. O sofrimento transforma-se e sublima-se quando se está consciente da proximidade e solidariedade de Deus nesses momentos. É essa a certeza que dá a paz interior e a alegria espiritual próprias do homem que sofre com generosidade e oferece o seu sofrimento «como hóstia viva, santa e agradável a Deus» (Rm 12, 1). Aquele que sofre com esses sentimentos, não é um peso para os outros, mas contribui para a salvação de todos com o seu sofrimento. 

Vistos assim, o sofrimento, a enfermidade e os momentos obscuros da existência humana, adquirem uma dimensão profunda e inclusive repleta de esperança. Nunca se está sozinho diante do mistério do sofrimento; está-se com Cristo, que dá sentido à vida inteira: aos momentos de alegria e paz, assim como aos momentos de aflição e dor. Com Cristo tudo tem sentido, inclusive o sofrimento e a morte; sem Ele, nada se explica plenamente, nem sequer os legítimos prazeres que Deus uniu aos diversos momentos da vida humana. 

4. A situação dos doentes no mundo e na Igreja não é, de modo algum, passiva. A respeito disso, quero recordar as palavras que vos dirigiram os Padres Sinodais, no encerramento da VII Assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos: «Contamos convosco para ensinar ao mundo inteiro o que é o amor. Faremos todo o possível para que encontreis o lugar a que tendes direito na sociedade e na Igreja» (Per Concilii semitas ad Populum Dei Nuntius, 12). Como escrevi na Exortação Apostólica Christifideles laici, «a todos e a cada um se dirige a chamada do Senhor: também os doentes são mandados como trabalhadores para a Sua vinha. O peso que fatiga os membros do corpo e que perturba a serenidade da alma, em vez de os impedir de trabalhar na vinha, convida-os a viver a sua vocação humana e cristã e a participar no crescimento do Reino de Deus com modalidades novas e mesmo preciosas [...]. Muitos doentes podem tornar-se veículo da "alegria do Espírito Santo em muitas tribulações" (1 Ts 1, 6) e ser testemunhas da Ressurreição de Jesus» (n. 53). Neste sentido, é oportuno ter presente que os que vivem em situação de enfermidade não só são chamados a unir o seu sofrimento à Paixão de Cristo, mas também a ter uma parte activa no anúncio do Evangelho, testemunhando, a partir da própria experiência de fé, a força da vida nova e a alegria que vêm do encontro com o Senhor ressuscitado (cf. 2 Cor 4, 10-11; 1 Pd 4, 13; Rm 8, 18 ss.). 

Com estes pensamentos eu quis suscitar em cada um e cada uma de vós os sentimentos que levam a viver as provações actuais com um sentido sobrenatural, sabendo ver nelas uma ocasião para descobrir Deus no meio das trevas e dos interrogativos, e divisar os amplos horizontes que se vislumbram a partir do alto das nossas cruzes de cada dia. 

5. Quero fazer a minha saudação extensiva a todos os doentes do México, muitos dos quais estão a seguir esta visita através da rádio ou da televisão; aos seus familiares, amigos e a quantos os ajudam nestes momentos de provação; ao pessoal médico e sanitário, que oferece o contributo da sua ciência e das suas atenções para os superar ou, pelo menos, os tornar mais leves; às autoridades civis que se preocupam pelo progresso dos hospitais e dos demais centros assistenciais dos diferentes Estados e do País inteiro. Quero reservar uma menção especial às pessoas consagradas, que vivem o seu carisma religioso no campo da saúde, assim como aos sacerdotes e aos demais agentes pastorais que os ajudam a encontrar na fé consolo e esperança. 

Não posso deixar de agradecer as orações e sacrifícios que muitos de vós oferecem pela minha pessoa e o meu ministério de Pastor da Igreja universal. 

Ao entregar esta Mensagem a D. José Lizares Estrada, Bispo Auxiliar de Monterrey e Presidente da Comissão Episcopal de Pastoral no Campo da Saúde, renovo-vos a minha saudação e o meu afecto no Senhor e, por intercessão da Virgem de Guadalupe, que ao Beato Juan Diego disse «Não sou eu a tua saúde?» - manifestando-se assim como aquela a quem nós cristãos invocamos com o título de «Salus infirmorum» - concedo-vos de coração a Bênção Apostólica.

Cidade do México, 24 de Janeiro de 1999.

PAPA JOÃO PAULO II

 

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