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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO EMBAIXADOR DA REPÚBLICA DE SERRA LEOA
JUNTO DA SANTA SÉ POR OCASIÃO
DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS

13 de Dezembro de 2002 

 

Excelência

Dou-lhe as minhas calorosas boas-vindas e aceito as Cartas Credenciais, mediante as quais Vossa Excelência é nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Serra Leoa junto da Santa Sé. Enquanto lhe agradeço as saudações que me transmitiu da parte do Presidente, Sua Ex.cia o Senhor Ahmad Tejan Kabbah, e também do governo, é de bom grado que formulo os meus bons votos às autoridades e ao povo do seu País e recordando as grandes dificuldades por que a população está a passar, em virtude dos longos anos de conflito peço-lhe que transmita à sua Nação a certeza das minhas orações.

No século passado, realizou-se um grande progresso nos campos social, económico e científico. Contudo, durante este mesmo período, a humanidade testemunhou também a violência, a destruição e a morte, que são provocadas quando os povos e as nações recorrem às armas e não ao diálogo, quando a guerra é preferida ao mais difícil caminho da compreensão e do respeito recíprocos. E o que é ainda mais triste, o começo deste nosso novo milénio tem sido marcado por uma violência mais terrível, que se apresenta sob a forma do terrorismo internacional. Assim, apesar dos numerosos progressos culturais e tecnológicos, que se alcançaram ao longo dos últimos cem anos, ainda há importantes áreas que foram pouco beneficiadas pelo desenvolvimento ou que chegaram a piorar.

Nas situações em que surgem tensões e conflitos, tanto dentro de um país como entre as nações, a resposta justa nunca é a violência nem o derramamento de sangue, mas o diálogo, com vista à solução pacífica das crises. O diálogo autêntico pressupõe a procura honesta daquilo que é verdadeiro, bom e justo para cada pessoa, grupo e sociedade; é um esforço sincero, em ordem a identificar o que as pessoas têm em comum, apesar da tensão, da oposição e do conflito:  com efeito, este é o único caminho seguro para a paz e para o progresso autêntico. Além disso, o verdadeiro diálogo ajuda as pessoas e as nações da terra a reconhecer a sua interdependência mútua nos campos da economia, da política e da cultura. Precisamente nos nossos tempos modernos, em que as pessoas se sentem bastante familiarizadas com as últimas tecnologias de morte e de destruição, existe a urgente necessidade de edificar uma consistente cultura da paz que há-de ajudar a prevenir e a contrapor a irrupção da violência armada, que se julga inevitável. Isto exige que se dêem passos concretos em ordem a pôr termo ao tráfico das armas.

Nisto, o dever dos vários governos e da comunidade internacional continua a ser essencial, porque é a eles que compete contribuir para a instauração da paz através de estruturas sólidas que, apesar das incertezas da política, hão-de garantir a liberdade e a segurança a cada um dos povos, em todas as circunstâncias.

A própria Organização das Nações Unidas tem assumido um papel de responsabilidade cada vez maior, para manter ou para restabelecer a paz nas regiões perturbadas por guerras e conflitos. No seu próprio País, a Organização das Nações Unidas acabou de prolongar o mandato da sua missão de manutenção da paz:  assim, a própria comunidade internacional colabora com o seu governo, Senhor Embaixador, nos esforços realizados pelo seu País em ordem a reintegrar os ex-combatentes, a facilitar a volta dos refugiados e das pessoas deslocadas, a garantir o pleno respeito pelos direitos humanos e pela prática da lei, assegurando uma protecção especial às mulheres e às crianças. Neste contexto, não posso deixar de expressar a minha imensa satisfação ao ver que, depois de anos de conflito armado, de sofrimento e de mortes, a estabilidade civil está a instaurar-se novamente em Serra Leoa, proporcionando perspectivas positivas para a normalização da vida nacional:  que o seu País continue a percorrer este caminho com coragem e perseverança.

Também a Igreja católica não deixa de oferecer o seu pleno apoio às actividades que visam o restabelecimento da paz e a instauração da reconciliação. Com efeito, o seu divino Fundador confiou-lhe uma missão religiosa e humanitária, diversa da que compete à comunidade política, mas contudo aberta às numerosas formas de cooperação e de ajuda mútuas. É esta missão que se encontra por detrás da presença da Santa Sé no seio da comunidade internacional, uma presença orientada exclusivamente para o bem-estar da família humana:  promoção da paz, defesa da dignidade humana e dos direitos do homem, e compromisso em benefício do progresso integral dos povos. Trata-se de um dever que deriva, necessariamente, do Evangelho de Jesus Cristo, e é uma responsabilidade compartilhada por todos os cristãos. Por este motivo, a Igreja continuará a ser uma parceira comprometida no bem do seu País, enquanto Serra Leoa continua a percorrer o caminho do desenvolvimento político, social e económico.

Senhor Embaixador, estou convicto de que a sua missão junto da Santa Sé fortalecerá os vínculos de compreensão e de amizade entre nós. Vossa Excelência pode ter a certeza de que os diversos departamentos da Cúria Romana estarão sempre prontos para o assistir no desempenho dos seus altos deveres. Sobre Vossa Excelência e sobre o querido povo de Serra Leoa, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.


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