VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II
AO AZERBAIJÃO E À BULGÁRIA
(22-26 DE MAIO DE 2002)
CERIMÓNIA DE BOAS-VINDAS À BULGÁRIA
DISCURSO DO SANTO PADRE
Praça Santo Alexandre Nevski, Sófia
Quinta-feira, 23 de Maio de 2002
Senhor Presidente
Santidade
Ilustres Membros do Corpo Diplomático
Ilustres Autoridades
Representantes das várias Confissões religiosas
Queridos Irmãos e Irmãs
1. É com comoção e profunda alegria que me encontro hoje na Bulgária e que posso dirigir-vos a minha saudação cordial. Estou grato a Deus Omnipotente por me ter concedido realizar um desejo que trazia no meu coração desde há muito tempo.
Todos os anos, por ocasião da festa dos Santos Cirilo e Metódio, apóstolos dos povos eslavos, é hábito que eu receba no Vaticano os representantes do Governo e da Igreja da Bulgária. Por conseguinte, hoje venho, de certa forma, retribuir a visita e encontrar-me no seu bonito País com o querido povo búlgaro. Neste momento, penso de novo no meu predecessor, o Papa Adriano II, que foi pessoalmente ao encontro dos santos Irmãos de Tessalónica, quando foram a Roma para levar as relíquias de São Clemente, Papa e mártir (cf. Vida de Constantino, XVII, 1), e para testemunhar a comunhão da Igreja por eles fundada com a Igreja de Roma. Hoje, é o Bispo de Roma que vem até vós, movido pelos mesmos sentimentos de comunhão na caridade de Cristo.
O pensamento dirige-se também, nesta particular circunstância, para outro meu predecessor, o Beato Papa João XXIII, que durante uma dezena de anos foi Delegado Apostólico na Bulgária e permaneceu sempre profundamente ligado a esta terra e aos seus habitantes. Na sua recordação, saúdo todos com afecto e a todos digo que em nenhuma circunstância deixei de amar o povo búlgaro, apresentando-o constantemente na oração ao Trono do Altíssimo: a minha presença hoje entre vós seja manifestação eloquente dos sentimentos de estima e de afecto que nutro por esta nobre Nação e por todos os seus filhos.
2. Saúdo cordialmente as Autoridades da República, e agradeço-lhes os convites que me fizeram e o empenho dedicado a esta minha visita. A Vossa Excelência, Senhor Presidente, exprimo o meu profundo reconhecimento pelas gentis palavras com que me recebeu nesta histórica praça. Através dos ilustres Membros do Corpo Diplomático, o meu pensamento dirige-se também para os povos que eles aqui representam dignamente.
Saúdo com deferência Sua Santidade o patriarca Maxim e os Metropolitas e Bispos do Santo Sínodo, juntamente com todos os fiéis da Igreja Ortodoxa da Bulgária: desejo ardentemente que esta minha visita sirva para fortalecer o nosso conhecimento recíproco para que, com a ajuda de Deus e no dia e da forma que lhe agradar, se possa chegar a viver "em perfeita união de pensamento e de intenções" (cf. 1 Cor 1, 10), recordando-nos da palavra do nosso único Senhor: "Por isso, é que todos saberão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros" (Jo 13, 35).
3. Abraço com particular afecto os meus irmãos Bispos Christo, Gheorgi, Petko e Metodi, juntamente com todos os filhos e filhas da Igreja Católica, sacerdotes, religiosos e leigos: venho até vós com a saudação e os votos de paz que o Senhor ressuscitado oferece aos seus discípulos (cf. Jo 20, 19), para vos confirmar na fé e vos encorajar no caminho da vida cristã.
Saúdo os cristãos das outras Comunidades eclesiais, os membros da Comunidade judaica com o seu Presidente e os fiéis do Islão guiados pelo Grão-Mufti, e confirmo aqui, depois do encontro de Assis, a convicção de que todas as religiões são chamadas a promover a justiça e a paz entre os povos, o perdão, a vida e o amor.
4. A Bulgária recebeu o Evangelho graças à pregação dos Santos Cirilo e Metódio, e aquela semente lançada em terra fértil deu, ao longo dos séculos, abundantes frutos de testemunho cristão e de santidade. Também durante o longo e rígido inverno do sistema totalitário, que marcou no sofrimento o vosso, juntamente com muitos outros Países da Europa, a fidelidade ao Evangelho nunca esmoreceu, e numerosos filhos deste povo viveram heroicamente a adesão a Cristo, chegando em muitos casos até ao sacrifício da própria vida.
Desejo aqui prestar honra a estas corajosas testemunhas da fé, pertencentes às diversas Confissões cristãs. O seu sacrifício não seja vão, mas sirva de exemplo e torne fecundo o empenho ecuménico com vista à plena unidade dos cristãos. Olhem para eles também todos os que trabalham para a edificação de uma sociedade baseada na verdade, na justiça e na liberdade!
5. É necessário curar as feridas e projectar com optimismo o futuro. Trata-se, sem dúvida, de um caminho que não é fácil nem está privado de obstáculos, mas o empenho concorde de todos os componentes da Nação tornará possível o alcance das metas desejadas. Todavia, dever-se-á continuar com sabedoria, na legalidade e na salvaguarda das instituições democráticas, sem poupar sacrifícios, conservando e promovendo os valores que fundamentam a verdadeira grandeza de uma Nação: a honestidade moral e intelectual, a defesa da família, o acolhimento do necessitado, o respeito pela vida humana desde a sua concepção até ao seu termo natural.
Formulo os votos de que o esforço de renovação social empreendido com coragem pela Bulgária encontre a aceitação inteligente e o apoio generoso da União Europeia.
6. Talvez precisamente aqui, perto dos túmulos dos mártires, se reuniram em 342 ou 343 os Bispos do Oriente e do Ocidente para a celebração do importante Concílio de Serdica, onde se discutiu o destino da Europa cristã. Nos séculos posteriores, surgiu aqui a basílica da Sophia, a Sabedoria divina, que segundo o pensamento cristão indica os fundamentos sobre os quais deve ser edificada a cidade dos homens. O caminho que leva ao autêntico progresso de um povo não pode ser apenas político e económico; ele deve necessariamente pressupor também a dimensão espiritual e moral. O cristianismo está nas próprias raízes da história e da cultura deste País: por conseguinte, não se pode prescindir dele num sério processo de crescimento projectado para o futuro.
A Igreja católica, com o compromisso diário dos seus filhos e com a disponibilidade das suas estruturas, deseja contribuir para conservar e desenvolver o património dos valores espirituais e culturais dos quais o País se orgulha. Ela deseja reunir os seus esforços com os dos outros cristãos, para pôr ao serviço de todos, os fermentos de civilização que o Evangelho pode oferecer também às gerações do novo milénio.
7. Devido à sua posição geográfica, a Bulgária encontra-se a servir de ponte entre a Europa oriental e a Europa do sul, como que numa encruzilhada espiritual, terra de encontro e de compreensão recíproca. Confluíram aqui as riquezas humanas e culturais das diferentes regiões do Continente, e encontraram acolhimento e respeito. Desejo prestar publicamente homenagem a esta tradicional hospitalidade do povo búlgaro, recordando sobretudo os beneméritos esforços realizados para salvaguardar milhares de hebreus durante a segunda guerra mundial.
A Mãe de Deus, aqui particularmente amada e venerada, proteja a Bulgária sob o seu manto e obtenha que o seu povo cresça e prospere na fraternidade e na concórdia! Deus Omnipotente encha com as suas Bênçãos este vosso nobre País, garantindo-lhe um futuro próspero e pacífico!
Copyright © Dicastero per la Comunicazione - Libreria Editrice Vaticana