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MENSAGEM DO PAPA PAULO VI
 AOS PARTICIPANTES NO I ENCONTRO PAN-AFRICANO
 E MALGAXE DOS LEIGOS

 

Queridos filhos e filhas

Estais reunidos em Accra para realizar o primeiro Encontro pan-africano e malgaxe dos Leigos, organizado por iniciativa do nosso Consilium de Laicis e presidido por dois dos seus membros, o Dr. John Nimo e o Sr. Joseph Amichia, muito recentemente nomeado Embaixador da Costa do Marfim junto da Santa Sé.

Temos o prazer de encontrar entre vós, além dos Cardeais Paul Zoungrana e Maurice Roy, as mais elevadas autoridades civis do País que vos acolhe, e vários representantes da Santa Sé, de entre os quais desejamos mencionar, de modo particular, como nosso colaborador muito próximo, o Arcebispo Dom Bernardin Gantin, Secretário-Adjunto da Sagrada Congregação para a Evangelização dos Povos.

A presença destas personalidades é suficiente para demonstrar a importância do vosso Encontro. Viestes de trinta países, e sabeis que aí representais o enorme número daqueles que vos delegaram e com quem tivestes uma parte activa na preparação dos trabalhos desta Assembleia. Por vosso intermédio queremos manifestar a todos eles a grande felicidade que temos por um acontecimento que demonstra, com tanta evidência, a vitalidade da Igreja no vosso continente. É não só para eles, mas também para vós, que dirigimos esta mensagem, que lhes deveis transmitir como um apelo a prosseguirem e a fazerem, deste Encontro em Acera, o ponto de partida para um dinamismo missionário sólido e vigoroso.

Recordai-vos do texto conciliar que é, por assim dizer, a Carta do apostolado dos leigos na «actividade missionária da Igreja». Será suficiente recordar-vos o primeiro parágrafo:

«A Igreja não está verdadeiramente fundada, nem vive plenamente, nem é o sinal perfeito de Cristo entre os homens, se não existir e trabalhar com a hierarquia um laicado autêntico. De facto, o Evangelho não pode penetrar profundamente nos espíritos, na vida e no trabalho de qualquer povo sem a presença activa dos leigos » (Ad Gentes, 21).

Este texto exprime o objectivo das pesquisas que ides empreender. Queridos filhos e filhas, procurai aprofundar, com espírito de pioneiros e de testemunhas, sob a luz do Evangelho de Cristo, o tema que vos foi proposto pela digna Comissão Preparatória: «O empenho do leigo no progresso da Igreja e no desenvolvimento integral da África».

A escolha deste tema é, de per si, muito significativo. Convida-vos a fazer um estudo comum e profundo da vocação própria do leigo. É uma vocação a «buscar o Reino de Deus, ocupando-se das coisas temporais e ordenando-as segundo Deus» (Lumen Gentium, 31).

Sois responsáveis pelo progresso da Igreja, porque sois responsáveis pelo desenvolvimento da África, porque sois membros da cidade terrestre. Este duplo mandato deve constituir uma única realidade para os Cristãos, que rejeitam toda a dicotomia arbitrária entre a vida e a fé, e que se esforçam por «colaborar tanto para o progresso temporal e terrestre dos homens, como para o seu destino eterno, em harmonia com a união de pensamento e vida» (A Missão Missionária do Laicado — Documento da Sagrada Congregação para a Evangelização dos Povos).

Como podeis ver, é, sobretudo, mediante a vossa consciência de leigos, que o falso dilema «Desenvolvimento e Evangelização», rejeitado por nós, no ano passado, por ocasião do Dia Mundial das Missões, pode ser resolvido.

Portanto, que deveis fazer, queridos filhos e filhas, para conseguir, através da vossa actividade cristã, a realização simultânea do progresso da África e do progresso da Igreja? Que deveis fazer para conseguir que o testemunho do Evangelho possa ser dado, mesmo quando cooperais no desenvolvimento dos vossos países, com os vossos irmãos e irmãs de outras crenças e ideologias, com pleno respeito pelas suas consciências?

Não deveis duvidar que tudo isto se realize, «dando ao vosso apostolado uma forma Africanizada», para usar a expressão recentemente empregada, em Roma, pelo Arcebispo Gantin: «A partir de então, vós, Africanos, sois missionários de vós próprios » (Discurso no Symposium dos Bispos de África, em Kampala). Deveis recordar constantemente, quando vos ocupardes, nas vossas discussões de grupo, dos vários objectos do vosso estudo: a evolução económica, social e política das vossas regiões; a família, educação e instrução; o laicado na vida da Igreja; e, finalmente, a acção a ser empreendida.

Mas, para dar ao apostolado dos leigos o seu carácter Africano, não hesiteis em haurir, na experiência da Igreja, tudo o que tem valor universal e o que reflecte os grandes ensinamentos missionários do Velho e do Novo Testamento. Convém fazer uma referência especial aos ensinamentos profundamente evangélicos do falecido Cardeal Cardijn, que soube organizar e desenvolver, em muitos países e nos mais diversos contextos sociais, um grupo genuíno de leigos. Nesses ensinamentos se inspiraram muito as reflexões do Concílio, sobre a vocação dos leigos.

A África não foi a última a aproveitar da inspiração desta escolha. E não é digno de atenção o reflexo que ela produz, nalguns pontos do comportamento tradicional, para procurar os caminhos da justiça e da paz, seguidos, algumas vezes ainda, pelos mais velhos das vossas aldeias? Quando sucede alguma coisa, realiza-se uma assembleia do povo sob a «árvore da palavra»; todos podem falar e é então que a verdade plena dos factos é conhecida, que eles são julgados com a maior exactidão possível, de acordo com a consciência da comunidade, e que finalmente, uma decisão pode ser tomada.

Mas, tratando-se de uma questão da actividade missionária dos leigos na Igreja, que dimensões esta antiga sabedoria, uma sabedoria que é animada, mantida, consagrada e santificada pelo Espírito de Deus, entre aqueles que são iluminados pela Palavra de Deus e alimentados pelos Sacramentos, é chamada a assumir!

Não é justo que sejam só algumas pessoas, mas todas — crianças, jovens e adultos, homens e mulheres — a serem chamadas a considerar as suas vidas quotidianas como vidas consagradas, como a história humana do povo, o qual Deus quer para modelo da História Sagrada do Seu Povo. Todos são chamados a reflectir sobre os acontecimentos de que é feita esta história, para descobrir nela os valores humanos próprios de cada grupo social, para distinguir nela o que é a acção e a presença de Deus, e para descobrir, também, as tentações e o pecado que constituem numerosos apelos a dirigir o olhar para o único Salvador. Todos, enfim, são chamados a traduzir em acção as luzes que assim receberam, e, portanto, a dar à Igreja a possibilidade para atingir o seu objectivo.

«E consegue que tudo o que há de bom no coração e na mentalidade dos homens ou nos ritos próprios e culturas dos povos, não só não pereça, mas se purifique, se eleve e aperfeiçoe, para glória de Deus, confusão do demónio e felicidade do homem» (Lumen Gentium, 17).

Queridos filhos e filhas, não é necessário recordar-vos que a acção dos leigos nas vossas Igrejas, como também o exercício pleno do sacerdócio dos leigos em África, não será possível sem uma estreita e permanente comunhão com a hierarquia, e em confiante e fraternal intercâmbio com os sacerdotes, cuja missão é inseparável da vossa. Para estes sacerdotes que estão entre vós, e para todos os irmãos no sacerdócio, queremos dizer que contamos muito com eles, e que temos confiança no papel que desempenham, como educadores na fé, reveladores da Palavra de Deus e ministros dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia. O decreto conciliar Presbyterorum Ordinis (n. 6) recordou-o em termos vigorosos:

«De pouco servirão as cerimónias, mesmo belas, ou as associações, ainda que florescentes, se não se ordenam a educar os homens na aquisição da maturidade cristã. No desenvolvimento desta maturidade, terão o auxílio dos Sacramentos, para que até nos grandes e pequenos acontecimentos possam ver o que as coisas significam e qual a vontade de Deus».

Caríssimos filhos, se fordes sacerdotes, naturais do lugar em que trabalhais, ou de outras regiões, ajudai-vos mutuamente para trabalhardes neste sentido, e não deixeis de vos unir, nesta essencial tarefa de promover o laicado, aos Irmãos e Irmãs Religiosos, cuja acção insubstituível, que é complemento da vossa, experimentastes por tanto tempo.

A Igreja é uma comunhão, um intercâmbio e um harmonioso progresso, na fidelidade de cada vocação ao dom recebido de Cristo: «A uns. Ele constituiu Apóstolos, a outros, Profetas, a outros. Evangelistas, Pastores e Doutores, para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo » (Ef 4, 11-12).

Queridos filhos e filhas da África e das Ilhas do Oceano Índico, sede testemunhas — todos e cada um de vós — nas vossas terras, e, mais do que nunca, no nosso tempo de movimentos intensos de população, « até aos confins do mundo » (Act 1, 8).

Para esta grande missão invocamos sobre vós, sobre as vossas famílias, sobre o vosso grupo de apostolado e sobre os vossos países, a graça do Senhor, e, em Seu nome, damo-vos, com grande afecto, a nossa Bênção Apostólica.

Vaticano, 5 de Agosto de 1971.

PAULUS PP. VI

 



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