DISCURSO DO PAPA PIO XII
AO SENHOR MAURÍCIO NABUCO
NOVO EMBAIXADOR DO BRASIL JUNTO
DA SANTA SÉ POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO
DAS CARTAS CREDENCIAIS (*)
Quarta-feira, 22 de Novembro de 1944
Senhor Embaixador
As palavras que Vossa Excelência acaba de dirigir Nos ao entregar-Nos as credenciais com que o Senhor Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil o acredita junto de Nós como Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário, manifestam um tão profundo sentimento do elevado ofício a Vossa Excelência confiado e uma tão segura intuição das necessidades e angústias dêste tormentoso tempo que aumentam em Nós a confiança de encontrarmos em Vossa Excelência, de mais a mais unido já a esta Sé Apostólica por gloriosas memórias de família, um ardente fautor das relações felizmente existentes entre a Igreja e o Estado na sua nobre Nação.
Se Nós hoje, desandando com o pensamento o decénio decorrido desde a Nossa inolvidável viagem em Terras de Santa Cruz e na sua explêndida Capital, atentamos nas profundas transformações que êste breve lapso de tempo imprimiu em tôda a humanidade, compreendemos perfeitamente como também o povo brasileiro, — tão querido e tão dentro do Nosso coração, — se virá a encontrar ao fim desta imane guerra diante de problemas e encargos que hão de exigir das energias materiais e espirituais da Nação um esfôrço como nunca teve de fazer.
Ora nada pode favorecer nem promover de maneira mais ampla e eficaz a preparação do povo brasileiro para tão alto fim, do que as energias e os frutos que a tôdas as classes do povo oferecem as incomensuráveis fôrças morais contidas na doutrina de Cristo.
Ao Brasil, que é uma das principais e mais importantes nações da América Latina, abrem-se aqui horizontes cuja amplidão, rica das mais vastas possibilidades, convida aos seus melhores filhos e filhas a grandes e generosas resoluções.
O fiel povo brasileiro tem viva consciência e nobre ufaniado património espiritual que desde os primeiros tempos do descobrimento recebeu, qual preciosa herança, da doutrina de Cristo e da sua união com a Igreja Católica Romana.
Ele sente-se profundamente apegado a estas suas tradições religiosas e ao seu hereditário vínculo com os demais povos da civilização latina, e sabe que a parte melhor das suas qualidades características e dos seus particulares sentimentos se nutriu e se nutre da seiva haurida destas raízes.
Ele sabe bem quão poderosamente tem contribuído para a conservação e defesa dêste seu carácter próprio e peculiar o trabalho indefesso, tanto do seu benemérito clero secular quanto dos membros das Ordens e Congregações Religiosas no campo do ministério espiritual e da educação.
Nós, Senhor Embaixador, alimentamos a firme confiança de que as relações amigáveis entre a Santa Sé e o Brasil hão de concorrer para que a providencial missão educadora e social da Igreja em meio do grande povo brasileiro se possa desenvolver em medida cada vez mais ampla e fecunda.
Com êste augúrio Nós rogamos-lhe que faça chegar a Sua Excelência o Senhor Presidente da República a expressão da Nossa sempre viva lembrança e dos Nossos férvidos votos.
Emquanto invocamos sôbre a sua Pátria, por Nós tão amada, a protecção do Omnipotente nêste agitado presente e no limiar de um futuro que desejamos e imploramos rico de prosperidade e bem-estar, damos a todo o dilecto povo brasileiro e ao seu Govêrno, e de modo especial a Vossa Excelência com tôda a efusão do Nosso coração paterno a implorada Bênção Apostólica.
(*) Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII, vol. VI, pág. 205-206.
AAS 36 (1944), p.330-331.
L’Osservatore Romano 23.11.1944, p.1.
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