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  DISCURSO DO PAPA PIO XII
A UM GRUPO DE PEREGRINOS PORTUGUESES (*)

Segunda-feira, 4 de Junho de 1951

 

Amados Filhos!

Bem vindos! muito bem vindos lá da extrema cabeça da Europa, « onde a terra se acaba e o mar começa, e onde Febo repoisa no Oceano », à cidade Vaticana, ao coração do mundo, onde Pedro vive sempre, solícito em acolher, desvelado em apacentar a. grei de Cristo.

Muitas vezes, desde os inícios do Ano Santo, tivemos ocasião de acolher as embaixadas que a Nós vinham da Terra de Santa Maria e Nos recordavam a celeste Mensagem de Nossa Senhora de Fátima, lá anunciada, mas para ser transmitida ao mundo, e que era quasi a mensagem anticipada de un perene Ano Santo.

Mas cremos que nenhuma se Nos apresentou tão singularmente representativa como esta vossa, assim pelas pessoas que a compoem, — onde distinguimos a ilustríssima Commissão Nacional que colaborou na erecção da igreja jubilar de Santo Eugénio, e o numeroso grupo das beneméritas Servitas de Nossa Senhora de Fátima, — como também pelo honroso munus de que veem incumbidos e agora na Nossa presença oficialmente realizam.

Na ilustre Commissão vemos Portugal inteiro, todos os Nossos dilectos filhos de Portugal continental, insular e ultra­marino, que quasi por mão própria Nos vem entregar a monumental lembrança, com que se quiseram associar ao Nosso jubileu episcopal. Preciosa lembrança em si mesma, preciosa pelo amor e devoção ao Padre Santo, de que é eloquente e sensível testemunho, preciosa ainda pelo seu altíssimo significado.

É o magnifico altar de Nossa Senhora de Fátima na Nossa igreja jubilar. Na sua tradicional devoção ao Vigário de Cristo, Portugal não sofreu permanecer estranho áquele grandioso concerto de filiais homenagens e logo entre os primeiros se ofereceu a concorrer com a sua parte; mas quisestes dar ao vosso concurso um significado especial. E assim pensastes — e que bem vos inspirou a vossa filial devoção! — pensastes em fazer com que o monumento que recordava a Nossa sagração episcopal, recordasse tambén a providencial coincidência que o assinalou.

Aquela data grande, formidável na Nossa vida, talvez nos secretos disígnios da Providência, sem que Nós o pudéssemos presentir, preparava a outra data mais formidável em que o Senhor faria pesar sobre nossos hombros a solicitude da Igreja universal. Entretanto à mesma hora na montanha da Fátima anunciava-se a primeira aparição da branca Rainha do santíssimo Rosário, como se a Mãe piedosíssima Nos quisesse significar que nos burrascosos tempos em que decorreria o Nosso Pontificado, em meio de uma das maiores crises da história mundial, teríamos sempre a envolver-Nos, proteger-Nos, guiar-Nos a assistência materna e desvelada da grande Vencedora de todas as batalhas de Deus. Sabemos que esta é a vossa íntima convicção e a de quantos vós aqui representais, e por isso a quisestes traduzir e eternar nos mármores do altar consagrado à Virgem de Fátima. E não é verdade que Nós temos mais que experimentado, apalpado sensivelmente a manifesta protecção da Virgem, não só nas maravilhas que a Senhora Peregrina vai a mãos cheias espalhando par todo o mundo, mas em Nos ter dado consagrá-lo ao seu Coração Imaculado, e definir a sua gloriosa Assunção?

E o altar de Nossa Senhora de Fátima aí fica na Cidade Eterna a lembrar a todos na sua linguagem elegante de obra de arte, a presença da Virgem, que desce a acolher de perto as súplicas de seus filhos e a trazer-lhes, envoltas nos sorrisos e bénçãos de seu Coração Imaculado as divinas misericordias.

Este dom enriquecei-lo hoje com novos dons complementares não menos expressivos: É uma pedra d'ara; simples pedra d'ara, mas do berço de Portugal ! Pois que berço sagrado da vossa pátria foi a igreja onde renasceu filho de Deus o seu heróico fundador; o qual apenas constituido o primeiro núcleo de Portugal o colocaria sob a protecção de S. Pedro, para que a sua bénção o armasse cavaleiro de Cristo e da Santa Igreja atravez dos séculos.

É o oiro que já nas divinas Escrituras é simbolo de caridade e a Nós Nos permitirá exercê-la em mais larga escala em prol de tantos necessitados; é a toalha e a alva, trabalho finíssimo em que delicadas mãos de artistas bordaram, lá nas pérolas do Atlântico, a sua filial devoção à Virgem Senhora e ao Vigário de Cristo; é enfim a matéria do divino sacrifício que Nos parece representar, unidos num só, os corações de todos os Nossos filhos de Portugal d'àquém e d'àlém mar, para no cális os ofertamos à Trindade Beatíssima sob o olhar e pelas mãos imaculadas da Virgem Mãe.

Amados filhos, enquanto. mais uma vez vos exprimimos o vivíssimo reconhecimento do Nosso coração paterno, elevámo-lo a Deus com os votos mais ardentes para que o Senhor pela intercessão da Virgem Senhora de Fátima vos continue a maravilhosa assistência e os extraordinários benefícios com que vos tem mimoseado, como já ha quasi vinte anos reconhecia o Nosso grande Predecessor de imortal memória, e Nós mesmo por vezes temos devido constatar. Mas vos não esqueçais a celeste mensagem, que primeiros tivestes a ventura de ouvir. Conservai-a no coração e traduzi-a nas obras que é o mais seguro penhor das maiores bênçãos.

Actuação viva e eloquente da celeste mensagem se Nos afiguram as beneméritas Servitas de Nossa Senhora de Fátima, aqui tão bem representadas. Não sabemos se entre vós ha algumas miraculadas. Sabemos que o vosso exemplo, todo feito de coração, sacrifício e caridade, é um dos milagres da Fátima e não dos menores. A oração, em que temos tanta parte e vos agradecemos como um dos mais belos dons hoje recebidos, contribue a obter as graças do ceu; o vosso espírito de sacrifício e caridade alivia e conforta os infermos, concorrendo para a melhoria física e moral de muitos; e a quantos o sabem contemplar é um vivo ensinamento que os edifica e a vos assegura o título de « Benditas de meu Pai» que o eterno Rei conferirá a quantos sabendo-o infermo nos desertos da vida, caridosamente o assistiram e confortaram.

Continuai incansáveis na vossa grande obra de finíssima caridade cristã; mas não esqueçais que hoje o grande infermo é o Mundo. Implorai incessantemente sobre ele a intervenção taumaturga de excelsa Regina Mundi para que as esperanças de uma era de paz verdadeira se realizem quanto antes, e o triunfo do Coração Imaculado de Maria apresse o triunfo do Coração de Jesus no Reino de Deus.

Com estes votos, a vós, a quantos aqui representais, a vossas famílias, a todos os Nossos dilectos filhos de Portugal fidelíssimo — continental, insular e ultramarino — damos efusivamente a Bénção Apostólica.

(*) Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII, vol. XIII, pág. 119-123.

 



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