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no mundo antigo. No século II, o pagão Celso
censurava os cristãos por algo que lhe parecia
uma ilusão e um engano: pensar que Deus tivesse
criado o mundo para o homem, colocando-o no
vértice do universo inteiro. « Porquê pretender
que [a verdura] cresça para os homens, em vez de
crescer para os mais selvagens dos animais sem
razão? »
46
« Se olhássemos a terra do alto do céu,
que diferença se nos ofereceria entre as nossas
actividades e as das formigas e das abelhas? »
47
No centro da fé bÃblica, há o amor de Deus, o
seu cuidado concreto por cada pessoa, o seu de-
sejo de salvação que abraça toda a humanidade
e a criação inteira e que atinge o clÃmax na en-
carnação, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Quando se obscurece esta realidade, falta o crité-
rio para individuar o que torna preciosa e única
a vida do homem; e este perde o seu lugar no
universo, extravia-se na natureza, renunciando Ã
própria responsabilidade moral, ou então preten-
de ser árbitro absoluto, arrogando-se um poder
de manipulação sem limites.
55.âÂÂAlém disso a fé, ao revelar-nos o amor de
Deus Criador, faz-nos olhar com maior respei-
to para a natureza, fazendo-nos reconhecer nela
uma gramática escrita por Ele e uma habitação
que nos foi confiada para ser cultivada e guarda-
da; ajuda-nos a encontrar modelos de progresso,
que não se baseiem apenas na utilidade e no lu-
46
âÂÂO
rÃgenes
,
Contra Celsum
, IV, 75:
SC
136, 372.
47
Ibid.
, 85:
o. c.
, 136, 394.