Lumen Fidei - page 73

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cro mas considerem a criação como dom, de que
todos somos devedores; ensina-nos a individuar
formas justas de governo, reconhecendo que a
autoridade vem de Deus para estar ao serviço do
bem comum. A fé afirma também a possibilidade
do perdão, que muitas vezes requer tempo, can-
seira, paciência e empenho; um perdão possível
quando se descobre que o bem é sempre mais
originário e mais forte que o mal, que a palavra
com que Deus afirma a nossa vida é mais pro-
funda do que todas as nossas negações. Aliás,
mesmo dum ponto de vista simplesmente antro-
pológico, a unidade é superior ao conflito; deve-
mos preocupar-nos também com o conflito, mas
vivendo-o de tal modo que nos leve a resolvê-lo,
a superá-lo, como elo duma cadeia, num avanço
para a unidade.
Quando a fé esmorece, há o risco de es-
morecerem também os fundamentos do viver,
como advertia o poeta Thomas Sterls Eliot:
« Precisais porventura que se vos diga que até
aqueles modestos sucessos / que vos permitem
ser orgulhosos de uma sociedade educada / di-
ficilmente sobreviveriam à fé, a que devem o
seu significado? »
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Se tiramos a fé em Deus das
nossas cidades, enfraquecer-se-á a confiança en-
tre nós, apenas o medo nos manterá unidos, e a
estabilidade ficará ameaçada. Afirma a Carta aos
Hebreus: «Deus não Se envergonha de ser cha-
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 «Choruses from
The Rock
», in:
The Collected Poems and
Plays
1909-1950 (Nova Iorque 1980), 106.
1...,63,64,65,66,67,68,69,70,71,72 74,75,76,77,78,79,80,81,82,83,...86
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