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CAPELA PAPAL PARA AS EXÉQUIAS
DO CARDEAL PIO LAGHI

HOMILIA DO PAPA BENTO XVI

Altar da Cátedra, Basílica Vaticana
Terça-feira, 13 de Janeiro de 2009

Senhores Cardeais
Venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
Caros irmãos e irmãs

Reunidos em oração ao redor do altar do Senhor para a celebração eucarística, prestamos na luz da fé a derradeira saudação terrena ao amado Cardeal Pio Laghi, que o Senhor chamou a si no final de dias caracterizados por uma grave enfermidade. No seu testamento espiritual, escrevera: "Ofereço a Deus novamente a minha vida pela Igreja, pelo Santo Padre e pela santificação dos meus irmãos no sacerdócio. Aceito desde já a morte que a Providência Divina me reservou: peço somente que, se for possível, os dias do meu sofrimento sejam abreviados também para não dar demasiado trabalho àqueles que tiverem que me assistir". E o Senhor, a cujo serviço se dedicou inteiramente, agora abriu-lhe os seus braços de Pai bom e misericordioso. Na luz desta esperança, dirijo as minhas sentidas condolências a quantos choram a sua dolorosa morte: aos parentes, aos amigos e àqueles que estimaram os seus dotes humanos e sacerdotais. Uno-me de maneira particular à vossa oração, prezados irmãos e irmãs que participastes no rito das exéquias, presidido pelo Senhor Cardeal Angelo Sodano, Decano do Colégio Cardinalício.

No Evangelho proclamado nesta celebração ressoou mais uma vez a mensagem das Bem-Aventuranças. Como um dia naquele monte da Galileia, também hoje o Senhor Jesus continua a ensinar os seus discípulos com estes preceitos sempre válidos, que constituem como que a "Magna Charta" de uma vida cristã autêntica. Quantas vezes o amado Cardeal Pio Laghi certamente parou para reflectir sobre estas palavras evangélicas, e quantas vezes as explicou aos fiéis! Com a sua forte carga escatológica, elas sustêm a nossa esperança no Reino dos céus, prometido a quantos se esforçam por seguir fielmente o caminho do Mestre, aderindo aos seus ensinamentos. Deus criou-nos para Ele, e nele encontramos a felicidade. Conformando-nos na sua Palavra, é-nos possível transformar em fonte de paz e em nascente de alegria também as provações e os sofrimentos que, inevitavelmente, fazem parte da nossa peregrinação terrena. Peçamos ao Senhor que torne este nosso Irmão partícipe da bem-aventurança eterna, cujas primícias ele pôde antegozar já aqui na terra, na comunhão eclesial, e na construção de vínculos de paz e de concórdia entre os povos e as nações, para junto dos quais fora enviado como Representante Pontifício.

Podemos dizer que toda a missão sacerdotal do Cardeal Pio Laghi foi desempenhada ao serviço directo à Santa Sé. Ele inspirou-se sempre nas palavras dirigidas por Pedro a Jesus, por ocasião da pesca milagrosa: "Mestre, trabalhámos a noite inteira e nada apanhámos, mas porque Tu o dizes, voltarei a lançar as redes In verbo tuo laxabo rete" (Lc 5, 5). Ele escolheu estas palavras como mote do seu ministério episcopal como explicava sucessivamente porque quando em 22 de Junho de 1969 recebeu a ordenação episcopal, a liturgia daquele domingo previa precisamente a narração evangélica da pesca milagrosa. O seu brasão representava, entre outras coisas, um lago sobre o qual se estende o céu e vê-se um braço com uma rede. Era o brasão da sua família, no interior da qual recebeu uma sólida formação humana e cristã, e que no seu testamento espiritual ele define "cristã, católica, diligente e honesta". No contexto da mesma, cultivou o germe da vocação sacerdotal. Depois dos estudos primários e secundários em Faenza, no instituto salesiano da cidade, entrou no seminário episcopal para seguir os estudos filosóficos, que depois continuou, para os cursos teológicos, em Roma como aluno do Pontifício Seminário Maior, até ser ordenado sacerdote no dia 20 de Abril de 1946.

Sucessivamente, foi chamado ao serviço da Santa Sé e, em Março de 1952, depois de ter obtido a licença em Teologia e em Direito Canónico na Pontifícia Universidade Lateranense, começou o seu longo itinerário diplomático e pastoral nas Nunciaturas de diversas nações: da Nicarágua a Washington, nos Estados Unidos da América, em Deli na Índia, voltando em seguida por cinco anos à Secretaria de Estado. Depois de o ter eleito Arcebispo Titular de Mauriana em Maio de 1969, o Papa designou-o seu Delegado em Jerusalém e na Palestina, também com o encargo de pró-Núncio em Chipre e de Visitador Apostólico para a Grécia. Em Abril de 1974 tornou-se Núncio Apostólico na Argentina, onde permaneceu até Dezembro de 1980, quando foi chamado a assumir a missão de Delegado Apostólico nos Estados Unidos. Foi precisamente durante estes anos que se estabeleceram as relações oficiais entre a Santa Sé e o Governo de Washington.

A longa experiência e conhecimento da Igreja impeliram o meu amado Predecessor João Paulo II a nomeá-lo Prefeito da Congregação para a Educação Católica e a criá-lo Cardeal no Consistório de 28 de Junho de 1991 designando-lhe também, a partir de Maio de 1993, o alto cargo de Patrono da Soberana Ordem de Malta. É igualmente necessário recordar com gratidão as missões especiais que foram confiadas ao saudoso Purpurado: em Maio de 2001, junto de Israel e da Autoridade Palestina, para entregar uma mensagem pontifícia autógrafa, com a finalidade de encorajar as partes a um imediato cessar-fogo e à retomada do diálogo; dois anos mais tarde, no dia 1 de Março de 2003 foi, como Enviado Especial, a Washington para transmitir ao Presidente dos Estados Unidos uma mensagem pontifícia e para explicar a posição e as iniciativas empreendidas pela Santa Sé em vista de contribuir para o desarmamento e a paz no Médio Oriente. Missões delicadas que ele procurou cumprir, como sempre, com fiel dedicação a Cristo e à sua Igreja. "Desejei amar Cristo escreve no seu testamento espiritual e servi-lo durante a minha vida inteira, embora muitas vezes a minha fragilidade humana me tenha impedido manifestar-lhe de modo sempre edificante, como teria desejado, o meu amor, a minha fidelidade e a plena dedicação da sua vontade".

Demos graças a Deus pelo dom deste nosso Irmão e amigo, e por todo o bem que ele, com a ajuda da graça divina, pôde cumprir nos vários âmbitos em que foi chamado a desempenhar a sua preciosa actividade pastoral e diplomática. Uma menção especial merece o zelo com que se dedicou à promoção das vocações e à formação dos presbíteros. Agora fazemos votos por que possa contemplar face a face aquele Jesus, que ele tanto procurou amar e servir nos irmãos (cf. 1 Jo 3, 2). No momento em que nos despedimos dele, o nosso coração anima-se com a sólida esperança de que, como nos recordou a liturgia hodierna, "permanece plena de imortalidade" (cf. Sb 3, 4), a esperança que iluminou a vida sacerdotal e apostólica do Cardeal Pio Laghi e que agora encontra a completa e definitiva realização na chamada divina a participar no banquete do Céu. Na conclusão do seu testamento espiritual, ele formula estes bons votos: "Tendo nos lábios o doce nome de Maria e o adorável nome do seu divino Filho Jesus, desejo exalar o meu último respiro". Acompanhemo-lo com afecto fraterno na passagem do tempo para a eternidade, unindo-nos a ele numa oração que ele gostava de repetir de modo particular: "Jesu, Filii Dei et Mariae, miserere mei: Mater mea, Fiducia mea, ora pro me in hora mortis meae. Amen".

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