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VIAGEM APOSTÓLICA DO SANTO PADRE
AO PAQUISTÃO, FILIPINAS, GUAM, JAPÃO E ALASKA
(16 DE FEVEREIRO - 27 DE FEVEREIRO DE 1981)

SANTA MISSA PARA PARA AS FAMÍLIAS
NO AEROPORTO DE LAHUNG

 HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

 Cebu, Ilha de Mindanao (Filipinas)
Quinta-feira, 19 de Fevereiro de 1981

 

Caros irmãos e irmãs em Cristo

1. Ao encontrar-me nesta importante cidade, conhecida como o berço do cristianismo nas Filipinas, desejo exprimir ao Senhor da história a minha profunda alegria e o meu sentido agradecimento. Pensar que durante 450 anos a luz do Evangelho brilhou sempre viva neste País e sobre o seu povo, é motivo de grande júbilo. Quatro séculos e meio de frutuosa interacção entre cultura local e mensagem cristã tiveram coma resultado aquela harmoniosa fusão chamada "cultura cristã Filipina". Todos os cristãos que chegam aqui do mundo inteiro encontram-se como em sua casa, entre pessoas que compartilham as suas mesmas aspirações e a mesma esperança, que encontram o próprio fulcro em Jesus Cristo, Seja louvado o Nome de Jesus por aquilo que ó Seu amor realizou!

A providência de Deus nas Filipinas foi verdadeiramente maravilhosa. A evangelização que principiou no século dezasseis não foi alguma coisa de puramente acidental. A graça divina já estava em acção quando o povo desta região teve o seu primeiro contacto com a imagem do Santo Menino. É acontecimento histórico importante, rico de significado religioso, o facto de a 1 de Janeiro de 1571, a cidade real de Sugbu ter sido rebaptizada como "Cidade do Santo Menino", e com isto a primeira cidade das Filipinas ter sido colocada sob a protecção do Menino Jesus.

2. A Providência divina permitiu-nos estar aqui hoje, para podermos oferecer um Sacrifício de louvor e agradecimento ao nosso Pai celeste pelos quatro séculos e meio de cristianismo neste País. Toda a Igreja dá graças a Deus, porque o povo "que um tempo estava longe, se aproximou graças ao sangue de Cristo" (Ef 2, 12-13). Agradece a Deus os 450 anos em que o Seu nome foi aqui glorificado, porque lhe foi oferecida uma autêntica adoração, porque a Virgem Maria foi venerada com devoção e com amor, e porque milhões de pessoas renasceram em Cristo. As inesquecíveis celebrações realizadas ontem em Manila em honra do protomártir filipino, o Beato Lourenzo Ruiz, demonstraram-nos com vigor que a fé cristã ganhou raízes profundas no solo das Filipinas.

A Igreja está particularmente grata a Deus por a pequena comunidade cristã de Sugbu, sob a protecção de Jesus Menino, se ter tornado hoje uma florescente arquidiocese de dois milhões de almas, quase todas católicas, com um clero activo e zelante, quer diocesano quer religioso, com homens e mulheres religiosos e comprometidos, e com um número encorajante de seminaristas. Sinto-me também profundamente feliz por saber que existem numerosas instituições e organizações católicas e movimentos laicais. Pode dizer-se verdadeiramente que o crescimento na fé e na vida cristã foi até hoje uma característica constante da Igreja de Cebu, como também de toda a Igreja das Filipinas. O glorioso passado infunde-nos grande esperança para o futuro. As relações harmoniosas, sob a direcção do Cardeal Júlio Rosales, do Arcebispo Coadjutor e do Bispo Auxiliar, entre a jerarquia e o Clero quer diocesano quer religioso; o profundo compromisso na evangelização por parte dos sacerdotes, dos religiosos e dos leigos; a existência de um sólido sentido eclesial e a profunda religiosidade da gente: tudo isto constitui uma grande força espiritual para a construção, em Cebu, de uma Igreja dinâmica.

3. Amados irmãos e irmãs em Cristo, a veneração secular do Santo Menino aqui em Cebu, oferece-nos o ensejo, hoje, para vos falar da família. O pequenino Jesus nasceu da Virgem Maria e viveu numa família, e foi precisamente na família de Nazaré que ele iniciou a missão que o Pai lhe havia confiada. "Porquanto um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado" (Is 9, 6). N'Ele nasceu uma nova era, n'Ele o mundo foi recriado, n'Ele foi oferecida à humanidade uma nova vida, uma vida remida por Cristo e em Cristo.

Dado o Criador querer que a vida tenha origem do amor de um homem e de uma mulher unidos pelo vínculo matrimonial, e como Cristo elevou esta união esponsal à dignidade de sacramento, nós devemos ver a família, a sua natureza e a sua missão, sob a luz viva da nossa fé cristã. Com legítimo orgulho podemos afirmar que o ensinamento hodierno da Igreja sobre o matrimónio e a família foi o seu ensinamento constante em fidelidade a Cristo. A Igreja católica sempre ensinou — e repito-o aqui com a convicção que me vem da minha missão de Pastor supremo e Mestre — que o matrimónio foi estabelecido por Deus; que o matrimónio é um contrato de amor entre um homem e uma mulher; que o laço que une mulher e marido é indissolúvel por vontade de Deus; que o matrimónio entre os cristãos é um sacramento que é o símbolo da união de Cristo com a sua Igreja; e que o matrimónio deve estar aberto à transmissão da vida humana.

4. Quando Jesus deu início à sua vida pública, pregando e curando, foi enfrentado um dia por alguns fariseus, que desejavam interrogá-lo sobre o matrimónio. Jesus respondeu com clareza e firmeza, reafirmando o que tinham dito as Escrituras "Mas, ao princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher. Por causa disso, deixará o homem seu pai e sua mãe e passarão os dois a ser uma só carne. Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Aquilo, pois, que Deus uniu não o separe o homem" (Mc 10, 6-9). Criando-os homem e mulher, Deus estabeleceu a complementaridade dos sexos; assim um homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir à sua esposa naquela união de amor que abraça todos os níveis da existência humana. Esta união de amor faz que o homem e a mulher cresçam juntos e tomem adequadamente cuidado dos próprios filhos. A união que faz deles uma só coisa não pode ser ofendida por autoridade humana alguma; está sempre ao serviço dos filhos e dos próprios cônjuges. Por este motivo, o amor entre um homem e uma mulher, no matrimónio, é um amor ao mesmo tempo fiel e fecundo. É um amor santo, e representa sacramentalmente a união de amor entre Cristo e a Igreja, como São Paulo escreveu aos Efésios: "É grande este mistério; digo-o, porém, em relação a Cristo e à Igreja!" (Ef 5, 32).

5. Por estes motivos, a Igreja não modificará nem mudará nunca o próprio ensinamento sobre o matrimónio e a família. Por estes motivos, a Igreja condena todo o atentado, como a poligamia, que possa destruir a unidade do matrimónio, e cada atentado, como o divórcio, que pretenda destruir o vínculo do matrimónio.

Por estes motivos, a Igreja afirma também com clareza que o matrimónio deve estar aberto à transmissão da vida humana. Deus quis que a união de amor entre marido e mulher fosse origem de novas vidas. Ele deseja partilhar, como fez, o Seu poder criativo com os maridos e as mulheres, confiando-lhes o poder de procriar. Deus deseja que este tremendo poder de procriar uma nova vida humana seja aceito pelo casal, livremente e com amor, no momento em que escolhe livremente unir-se em matrimónio. Ser pais, além disso, tem uma dignidade toda particular, garantida pelo próprio Deus. Por meu lado, o meu mandato apostólico obriga-me a reafirmar, o mais clara e firmemente possível, o que a Igreja ensina a este respeito, e a repetir com vigor a sua condenação à contracepção artificial e ao aborto.

6. Exactamente assim: desde o momento da concepção e em todos os seus sucessivos estádios, toda a vida humana é sagrada, porque foi criada à imagem e semelhança de Deus. A vida humana é preciosa, porque é um dom de Deus, cujo amor é ilimitado; e quando Deus dá a vida, esta é para sempre. Quem quer que procure destruir a vida humana no seio materno não só ofende a sacralidade de um ser humano que vive cresce e se desenvolve, e nisto opõe-se a Deus, mas lesa também a sociedade, porque é ameaçado o respeito por toda a vida humana. Desejo repetir aqui o que afirmei durante a visita à minha Pátria: "Se se inflige o direito do homem à vida no momento em que ele começa a ser concebido no seio materno, ataca-se indirectamente toda a ordem moral que serve para assegurar os bens invioláveis do homem. A vida ocupa entre eles o primeiro lugar. A Igreja defende o direito à vida, não só por respeito à majestade do Criador que é o primeiro dador desta vida, mas também por respeito ao bem essencial do homem" (8 de Junho de 1979).

7. Quando a Igreja vos apresenta os ideais do matrimónio e da família cristã, quando insiste que o amor entre marido e mulher, e o amor dos pais devem ser caracterizados pela generosidade, ela sabe que hoje são muitos os factores que ameaçam a vida da família e que tentam o coração humano.

A busca egoísta do prazer, o permissivismo sexual e o temor de um compromisso permanente são forças destruidoras. Como uma boa mãe, a Igreja vigia pelos seus filhos nos momentos difíceis; com os seus constantes ensinamentos vigia pelos casais que se encontram em dificuldades. Com amor a compreensão perante a fraqueza humana, mas também conhecendo o poder da graça de Cristo em cada coração humano, a Igreja desafia constantemente os seus filhos. Desafia-os a tomarem consciência da dignidade do seu baptismo e do dom da graça sacramental que lhes foi conferida precisamente para que, na sua vida, possam chegar a reflectir o amor sacrifical de Cristo, desenvolver o seu próprio amor numa união fiel e indissolúvel, e responder com generosidade ao dom de se tornarem pais. Como afirma o Concílio Vaticano II: "O autêntico amor conjugal é assumido no amor divino e rege-se e enriquece-se peia virtude redentora de Cristo e pela acção salvífica da Igreja, para conduzir eficazmente os cônjuges para Deus e ajudá-los e fortalecê-los na sublime missão da paternidade e da maternidade" (Gaudium et Spes, 48). A todos vós, casais cristãos — esposos e pais — dirijo este convite: caminhai com Cristo! É Ele que vos revela a dignidade do pacto solene que estipulastes; é Ele quem confere um valor imenso ao vosso amor conjugal; e é Ele, Cristo Jesus, que pode fazer infinitamente mais do que tudo quanto podemos pedir ou entender (cf. Ef 3, 20).

8. Numa comunidade cristã, cada um tem responsabilidade para com as famílias. Os programas que têm como finalidade a família e a dignidade do matrimónio são muito importantes: programas que preparam os noivos, e programas que ajudam os cônjuges. Em relação aos próprios filhos, os pais têm um papel insubstituível, não só como primeiros educadores na fé e modelos de virtude, mas também como exemplos de fiel amor conjugal. Naquela comunidade de amor e de confiança que todas as famílias deveriam ser, os pais e os filhos podem ser evangelizados e ser ao mesmo tempo instrumentos de evangelização. O respeito autêntico pela vida e a dignidade humana, a caridade generosa e o sentido do dever e da justiça, radicados firmemente no Evangelho, provêm de uma família onde prevalecem relações sãs entre pais e filhos e onde cada membro da família procura colocar-se ao serviço dos outros. Uma família onde a oração, o amparo amoroso e a formação da fé são os princípios constantes, levará grandíssimos benefícios não só aos membros da família mesma, mas também à Igreja e à sociedade.

9. Sinto-me particularmente satisfeito por saber que em todas as Filipinas o Apostolado das Famílias recebeu entusiástica aprovação e apoio. Desejo exprimir à Conferência Episcopal das Filipinas o meu apreço por ter proclamado o decénio presente, o que vai de 1981 a 1990, "O decénio da família" e por ter preparado um vasto programa pastoral, com esta finalidade. Desejo louvar com todo o coração as várias organizações e os movimentos que, em estreita colaboração com a Jerarquia, dedicam os seus generosos esforços à família. Desejo encorajar todos os educadores católicos, e sobretudo os próprios pais, a dedicarem particular atenção à conveniente formação do jovem n relação à sexualidade humana, acentuando adequadamente o propósito original do Criador, o poder redentor de Cristo e a influência de uma vida verdadeiramente sacramental.

A delicada responsabilidade da educação sexual é tarefa prevalecente das famílias, onde uma atmosfera de respeito recíproco no amor levará a uma compreensão plenamente humana e cristã dos significados do amor e da vida.

10. E assim, meus irmãos e irmãs em Cristo, meus amigos de Cebu City e dos arredores, despeço-me de vós. Este, foi para mim um dia inesquecível: estar convosco, fazer-vos participar do ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre a família cristã, e sentir o vosso recíproco amor no meio da família de Deus — a Igreja. O Santo Menino vos abençoe. Maria, Mãe de Jesus, e São José, seu esposo, vos assistam e assistam todas as famílias das Filipinas para serem o espelho da santidade, da alegria e do amor da Sagrada Família de Nazaré.

Pagpalain kayo nang Poong Maykapal! Deus vos abençoe!

 



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