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1979: ANO INTERNACIONAL DA CRIANÇA

MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II

 

Senhor Dom Simon LOURDUSAMY
Presidente da Pontifícia Obra da Infância Missionária

Neste Ano Internacional da Criança, pareceu muito a propósito corresponder ao desejo de numerosos responsáveis da Pontifícia Obra da Infância Missionária, dirigindo-lhes palavras de ânimo, destinadas igualmente às crianças de todos os países, que são membros deste movimento da Igreja, e destinadas a todas as pessoas, que as educam no espírito missionário. Vós, como Presidente duma obra muito grata ao coração do Papa e preciosa para o seu ministério de verdade e caridade, tereis o prazer de lhes comunicar esta mensagem.

O florescimento de novos movimentos de apostolado, sob o impulso bem conhecido do Papa Pio XI, talvez tenha levado a que se esqueçam as associações mais antigas, muitas vezes orientadas para a piedade e adaptadas a uma época e às suas necessidades. Pelo que diz respeito à Obra da «Santa Infância» — devida à intuição e ao zelo de Dom Carlos de Forbin-Janson há mais de 130 anos, e agora chamada «Obra da Infância Missionária» — não se pode deixar de admirar tudo o que ela encerrou, desde o princípio, de realismo e mesmo de modernidade. Que pretendia ela senão promover, mediante as próprias crianças, a salvação espiritual e corporal das crianças nascidas em países muito pouco evangelizados e muito pouco atingidos pelo desenvolvimento técnico de que principiam a beneficiar hoje? Sim, a preocupação pelo baptismo das crianças em perigo de morte, a protecção e às vezes o resgate das crianças capazes de sobreviver, a adopção das mesmas crianças por famílias cristãs e os cuidados prestados à instrução delas constituíam rede verdadeira de solidariedades humanas e espirituais entre as crianças dos antigos e dos novos continentes. Ora — e é justamente o paradoxo da nossa época — as necessidades materiais, e mais ainda as necessidades morais e religiosas, não fazem senão crescer. A Infância Missionária e os seus mais juvenis operários apostólicos — de que encontramos, nalgum sentido, certo protótipo no Evangelho — continuam a manter o seu lugar no anúncio da Boa Nova (Cfr. Evangelii Nuntiandi, 72).

O fundador desta Obra Pontifícia não deixou de meditar naquilo que se poderia chamar «a pastoral de Jesus», que encerrava certa pastoral da infância. Cristo quer que deixem as crianças vir até a Ele. Admira-lhes a simplicidade e a confiança, a transparência e a generosidade. O evangelista Mateus conta-nos que Jesus chamou uma delas e a colocou no meio dos seus apóstolos que discutiam sobre questões de méritos e precedências, a fim de a apresentar a eles como modelo daqueles que ambicionam entrar no Reino dos céus. Mais ainda. O Senhor identifica-se com os mais pequeninos: Quem receber um menino como este em Meu nome, é a Mim que recebe (Mt. 18, 5). E ousa amaldiçoar quem os escandaliza. Jesus não manipula as crianças, não explora as crianças. Chama-as e fá-las entrar no seu projecto de salvação do mundo. Que maravilha! Foi sem dúvida o que o Apóstolo João notou, ao transmitir as palavras de André, irmão de Pedro, antes da multiplicação dos pães: Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes; mas que é isso para tanta gente? (Jo 6, 9). Jesus aceitou esta pobre dádiva e, pelo seu poder divino, deu-lhe dimensões que o pequeno dador não podia imaginar. Ainda hoje, os cristãozinhos mais pequenos, quando formados no conhecimento e no amor evangélico das crianças da sua idade privadas dos bens necessários ao seu desenvolvimento integral, são capazes de cooperar neste trabalho de justiça, solidariedade, paz e avanço do Reino de Deus. E, procedendo assim, não só desenvolvem e personalizam a vida baptismal e humana, mas tais crianças interrogam e evangelizam os adultos, às vezes endurecidos e cépticos, sobre a necessidade e a eficácia da solidariedade e do dom de si mesmo.

A estas impressões, sobre a actualidade da Pontifícia Obra da Infância Missionária e sobre as suas fontes evangélicas, desejaria eu acrescentar, por último, as minhas palavras de incentivo a fim de que se tomem todos os meios para levar a Obra a progredir. Conto muito com o zelo bem conhecido, esclarecido e perseverante dos responsáveis nacionais, regionais e diocesanos. Em harmonia com os outros movimentos de apostolado da infância, velem por melhorar sem descanso os seus métodos de acção, sem dúvida diferentes de país para país mas certamente convergentes. Não pretendo ser exaustivo: pode-se insistir muito primariamente no lugar privilegiado da oração das crianças numa visão missionária; é preciso acrescentar-lhe o cuidado permanente da informação e da formação das criancinhas graças a planos catequéticos sólidos e bem adaptados, a sessões destinadas a incutir nos educadores das crianças o espírito missionário, e à renovação muito estudada das actividades educativas missionárias, desde o desenho e a expressão dramática até à gemelagem de grupos de crianças, e graças à organização das colectas inteligentemente apresentadas e realizadas, em particular para valer às necessidades das Igrejas jovens no plano dos seus meios catequéticos muitas vezes tão limitados. É preciso não deixar também de ensinar as crianças a verem e apreciarem as riquezas culturais e religiosas daqueles que elas querem ajudar, num clima de intercâmbio mútuo e verdadeiramente fraterno. Mas eu desejaria, acima de tudo, que o Dia Mundial da Infância Missionária, com muita felicidade colocado no tempo do Natal e da Epifania, fosse — para os seus educadores, em cujo número desejo ver muitos adolescentes mais desenvolvidos, e até para as suas famílias — a renovação anual duma solidariedade humana e cristã, cada vez mais reflectida, eficaz e recíproca. Com esta firme esperança, invoco sobre a Infância Missionária os dons do Espírito Santo, e dirijo ao seu Presidente, aos Responsáveis nacionais e aos seus colaboradores, e a todas as crianças do mundo que oferecem o melhor que têm a esta obra eclesial, a minha afectuosa Bênção Apostólica.

Do Vaticano, 10 de Abril de 1979.

JOÃO PAULO II



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