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MENSAGEM DO SANTO PADRE AOS MEMBROS DA
UNIÃO INTERNACIONAL DAS SUPERIORAS-GERAIS
  (U.I.S.G.)

 
À União Internacional das Superioras-Gerais

1. É com grande alegria que me dirijo a vós, queridas Superioras-Gerais, que viestes de todas as partes do mundo para o habitual encontro da União Internacional das Superioras-Gerais. Fostes convocadas para reflectir acerca dos problemas e esperanças da vida consagrada no início do terceiro milénio, para poderdes continuar a ser, em plena fidelidade aos vossos carismas, sinal do amor de Cristo. Não vos podendo receber em audiência devido à minha peregrinação seguindo os passos de São Paulo, que me levará nos próximos dias a Atenas, Damasco e Malta, dirijo-vos de bom grado a presente Mensagem, graças à qual me é concedido deter-me, pelo menos espiritualmente entre vós.

Estais reunidas em Roma para reflectir sobre um tema que une admiravelmente não só a enriquecedora diversidade dos vossos carismas na Igreja, mas também o pluralismo das culturas que tornam significativas as vossas tradições. Une-vos num só coração o anseio do apóstolo Paulo:  "Charitas Christi urget nos" (2 Cor 5, 14). Neste mundo, dilacerado por tantas contradições, propondes-vos, na vossa identidade de "mulheres", "ser presença viva da ternura e da misericórdia de Deus". Só em virtude da caridade de Cristo, as comunidades religiosas podem responder de maneira eficaz aos desafios do mundo moderno e tornar-se anúncio vivo de comunhão para uma nova humanidade, que brote da misericórdia e da ternura de Deus.

2. Caracteriza a vossa vida consagrada a comunhão com Deus-Amor, ao qual quereis reservar a primazia de qualquer escolha. Este Deus ao qual quisestes entregar-vos num livre e consciente dom, é o Deus de Jesus Cristo, Deus-Amor, de Relação, Deus-Trindade. Ele envolve a nossa pequenez na sua mesma dinâmica de amor e de unidade. Mas como pertencer a um Deus de comunhão se não oferecemos a comunhão às pessoas das quais nos aproximamos, exprimindo-a concretamente na vida? Na Exortação pós-sinodal "Vita consecrata" quis salientar que, "antes de ser instrumento de uma determinada missão, a comunhão fraternal é um espaço teologal em que se pode experimentar a mística presença do Senhor ressuscitado" (cf. n. 41) e ultimamente, na Carta apostólica Novo millennio ineunte, fiz notar que "espiritualidade de comunhão" significa ter "o olhar do coração voltado para o mistério da Trindade, que habita em nós e cuja luz há-de ser percebida no rosto dos irmãos que estão ao nosso redor" (n. 43). A mesma chamada que Jesus vos dirigiu, e à qual cada uma deu a sua resposta com o dom da própria vida, não pode realizar-se sem entrar em comunhão com o mundo inteiro por amor de Deus.

3. Para reconhecer Cristo e a Igreja o mundo precisa também do vosso testemunho. Por conseguinte, não vos desencorajeis se encontrardes dificuldades. Por vezes pode parecer que o amor, a justiça e a fidelidade já não estejam presentes no mundo de hoje. Não tenhais medo; o Senhor está convosco, precede-vos e segue-vos com a fidelidade do seu amor. Testemunhai com a vida aquilo em que acreditais!

Há necessidade do testemunho forte e livre do vosso voto de pobreza, vivido com amor e alegria, para que as vossas irmãs e irmãos compreendam que o único "tesouro" é Deus com o seu amor salvífico. A pobreza conserva a castidade e impede que vos torneis escravas das necessidades artificiais criadas pela civilização do bem-estar. Livres de tudo o que é supérfluo, dareis à vossa pobreza o rosto evangélico da liberdade e da confiança de quem tem a certeza que Deus provê aos seus filhos. Não vos é pedido que sejais poderosas, mas santas!

Há necessidade da vossa castidade fiel e límpida que "anuncia", no silêncio da sua doação quotidiana, a misericórdia e a ternura do Pai e brada ao mundo que existe um "amor maior" que preenche o coração e a vida, porque dá lugar aos irmãos, como sugere o Apóstolo:  "Levai os fardos uns dos outros" (Gl 6, 2). Não tenhais medo de testemunhar este grande dom de Deus. A juventude observa-vos; oxalá ela possa aprender de vós que há um amor diferente daquele que o mundo proclama, um amor fiel, total, capaz de arriscar. A virgindade, vivida por amor de Jesus, é profética hoje mais do que nunca!

Há necessidade da vossa obediência responsável e completamente disponível para Deus através das pessoas que Ele põe no vosso caminho. Sois chamadas a mostrar, com a vossa vida, que a verdadeira liberdade consiste em entrar decididamente no caminho marcado e abençoado pela obediência, o caminho de morte e ressurreição que Jesus nos indicou com o seu exemplo. Tende presente o seu brado, ao mesmo tempo de solidão e de abandono ao Pai:  "Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice; todavia, não seja como Eu quero, mas como Tu queres" (Mt 26, 39) (cf. Novo millennio ineunte, 26). Viveis a obediência na comunhão. Não deixeis que o individualismo ameaçe as vossas comunidades. Quem desempenha o serviço da autoridade empenhe-se sempre, a fim de que todas as Irmãs testemunhem uma profunda comunhão com o Magistério da Igreja, sobretudo quando uma mentalidade secularizada e hedonista tenta pôr em questão as verdades fundamentais e as normas morais. A vossa obediência seja abandono sem limites aos desígnios do Pai, como fez Jesus.

4. Deste abandono ao amor de Deus toma vigor a caridade para com o próximo. "É a hora de uma nova "fantasia da caridade"" (Novo millennio ineunte, 50), que se verifique não só na organização de socorros, mesmo sendo eles tão necessários, mas "na capacidade de pensar e ser solidário com quem sofre, de tal modo que o gesto de ajuda seja sentido não como uma esmola humilhante, mas como partilha fraterna" (Ibid.). A vida religiosa, para se reencontrar a si própria, deve redescobrir o contacto com o povo para que ele a possa conhecer como ela é:  dom de Deus feito aos homens no mistério de comunhão que vivifica a Igreja. Compreendereis cada vez mais profundamente na sua vitalidade o carisma que Deus vos deu, através dos vossos Fundadores e das vossas Fundadoras, quanto mais vos puserdes ao serviço dos outros, começando pelos mais pobres. Cada carisma é dado para a vida do mundo. A contemplação e a evangelização, o serviço aos marginalizados e aos doentes, o ensinamento, são sempre  um  diálogo  com  a  humanidade, aquela mesma humanidade pela qual Deus não hesitou enviar o seu Filho, para que oferecesse a vida pela sua redenção.

Quantas vezes foi dito que hoje se sente a necessidade não tanto de mestres como de testemunhas! Por conseguinte, sede testemunhas do Evangelho, fiéis a Deus e fiéis ao homem. A vida religiosa, precisamente devido à força da fé na presença de Cristo na sua Igreja "E Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo" (Mt 28, 20) viverá então com toda a comunidade eclesial "um renovado impulso para a vida cristã" (Novo millennio ineunte, 29), fazendo da presença divina a força inspiradora do seu caminho.

A certeza da presença de Deus na vossa vida ajuda-vos a compreender a relação existente entre vida consagrada e anúncio do Evangelho. Deus quer ter necessidade da vossa disponibilidade pessoal e comunitária ao seu Espírito, para que a humanidade se aperceba e descubra finalmente a sua misericórdia e a sua ternura por cada criatura. São Paulo afirma:  "Quando me sinto fraco, então é que sou forte" (2 Cor 12, 10). Por quê? Porque Deus não teme a debilidade do homem, se este aceita a sua misericórdia.

5. Queridas Superioras-Gerais, estou espiritualmente presente entre vós e acompanho-vos com a oração, pensando que cada vocação religiosa na Igreja dá sempre uma mensagem renovada de esperança. Dir-se-ia que o coração da mulher está criado para transmitir ao mundo a mensagem da misericórdia e da ternura de Deus. Por conseguinte, de bom grado vos confio à Virgem Maria, a primeira consagrada, que na obediência se tornou Mãe de Deus. E repito-vos com confiança:  "Sigamos em frente, com esperança! (...) Porventura não foi para tomar renovado contacto com esta fonte viva da nossa esperança que celebrámos o ano jubilar? Agora Cristo, por nós contemplado e amado, convida uma vez mais a pormo-nos a caminho" (Novo millennio ineunte, 58).

Maria vos ajude a amar, à custa de qualquer sacrifício, mesmo até ao heroísmo, como souberam fazer tantas Irmãs vossas. A sua presença seja para cada uma de vós guia e apoio.
Com estes sentimentos, concedo de coração a todas uma especial Bênção, que de bom grado faço extensiva aos vossos Institutos, a cada Comunidade e a todas as Irmãs, como expressão do amor de Deus que acompanha cada uma de vós com eterna fidelidade.

Vaticano, 3 de Maio de 2001.

 

 



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