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VIAGEM APOSTÓLICA À ESPANHA
31 DE OUTUBRO - 9 DE NOVEMBRO DE 1982

DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
 NO ENCONTRO COM OS ANCIÃOS EM VALÊNCIA

Segunda-feira, 8 de Novembro de 1982

Queridos Anciãos

1. Diante deste Santuário da Mãe comum dos Desamparados saúdo-vos com especial afecto, pessoas da terceira idade. E alegra-me que este encontro tenha lugar aqui em Valência, tão ligada à figura muito querida nesta cidade e na Espanha: Santa Teresa Jornet Ibars, fundadora das Irmãzinhas dos Anciãos Desamparados, que, juntamente com outros Institutos e pessoas, tanto se prodigaram e se prodigam em favor da terceira idade.

A ancianidade é algo venerável para a Igreja e para a sociedade, e merece o máximo respeito e estima. Já o Antigo Testamento nos ensina: "Levanta-te perante uma cabeça branca e honra a pessoa do ancião" (Lv 19, 32). "A sabedoria está nos cabelos brancos e a inteligência na longevidade" (Job 19, 32). Por isso me inclino diante de vós e convido todos a manifestar sempre a reverência afectuosa que merecem aqueles que nos deram a vida e nos precederam na organização da sociedade e na edificação do presente. O severo mandamento do Sinai: "Honra o teu pai e a tua mãe", continua a ser plenamente actual.

2. Sei que um mundo materialista e hedonista como o nosso, procura muitas vezes isolar-vos, queridos Anciãos, e que vos deparais com problemas de solidão, de falta de carinho e de compreensão. Um sofrimento muito maior quando são os próprios filhos ou familiares a comportarem-se dessa maneira.

Muitos não compreendem que a vida e as coisas não podem ser valorizadas só em base a critérios económicos ou de eficiência. Por este caminho toma-se desumana a convivência e empobrecem-se a família e a sociedade. É verdade que em tantos casos a pessoa na idade adulta, sobretudo se não goza de boa saúde, não poderá exercer as mesmas funções de uma mais jovem. Mas nem por isso a sua missão é menos preciosa, pois pode desempenhar muitos trabalhos complementares e muito úteis, que a vida moderna não permite facilmente a quem tem um trabalho regular. Essa inserção na vida familiar e social, segundo as possibilidades dos anciãos, será para eles fonte de serenidade pessoal e de encorajamento — por se sentirem úteis — assim como de enriquecimento social.

Perante uma perspectiva demográfica de forte crescimento dos anciãos em relação aos jovens, a sociedade deve pôr-se este problema com critérios humanitários e morais, evitando uma dolorosa e injusta marginalização.

3. A Igreja, por sua parte, há-de estimular todos a descobrirem é a estimarem a colaboração que o ancião pode oferecer à sociedade, à família e mesmo à Igreja. Procurando encorajar as pessoas anciãs a não automarginalizarem-se, cedendo à falsa convicção de que a sua vida já não tem objectivos dignos.

Por isso, deve-se ajudá-las a manter o interesse pelas coisas úteis para si mesmas e para os outros, a cultivar a sua inteligência, a apreciar a amizade com outras pessoas e a valorizar o seu lugar na grande família de filhos de Deus que é a Igreja, na qual cada pessoa tem dignidade e valor idênticos. Quantas paróquias poderiam também receber a ajuda preciosa de pessoas da terceira idade em tantas missões de apostolado, de catequese e de outro tipo!

É necessário que se desenvolva na Igreja uma pastoral para a terceira idade, em que se insista no papel criativo da mesma, da enfermidade e da limitação parcial, na reconciliação das gerações, no valor de cada vida, que não acaba aqui, mas que está aberta à ressurreição e à vida permanente. Assim far-se-á um trabalho eclesial e prestar-se-á um grande serviço à sociedade, clarificando a escala de tantos valores humanos.

Será sobretudo a família a grande beneficiada. Não posso deixar de vos ler algumas lindas palavras do meu predecessor Paulo VI que recolhi na minha Exortação Apostólica Familiaris consortio: "Os anciãos têm, além disso, o carisma de encher os espaços vazios entre gerações, antes que se sublevem. Quantas crianças têm encontrado compreensão e amor nos olhos, nas palavras e nos carinhos dos anciãos! E quantas pessoas de idade têm subscrito com gosto as inspiradas palavras bíblicas que 'a coroa dos anciãos são os filhos dos filhos' (Prov. 17, 6)" (n. 27).

4. A todos os membros da comunidade e especialmente às religiosas e aos leigos que trabalham na pastoral da terceira idade, expresso-lhes o meu profundo apreço e agradecimento em nome da Igreja. Peço-lhes que continuem a prestar, com abnegação e cheios de fé, a sua meritória obra, para inspirar nas pessoas, nas famílias e nas comunidades o espirito de amor do Evangelho para com os anciãos.

Que a Virgem Santíssima dos Desamparados proteja todas as pessoas da terceira idade da Espanha, sobretudo as que mais necessidade têm de amparo. E inspire sentimentos de solidariedade e de compreensão nos corações, a fim de que nenhum ancião careça do respeito, do afecto e da ajuda de que necessita. A todos os anciãos e a todos aqueles que os assistem e trabalham para eles, dou de coração a Bênção Apostólica.

 



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