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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO SENHOR TEÓFILO DE FIGUEIREDO ALMEIDA SILVA
 NOVO EMBAIXADOR DE CABO VERDE JUNTO DA SANTA SÉ
 POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS*

Quinta-feira, 12 de Dezembro de 1996

 

Senhor Embaixador

É com imenso prazer que o acolho hoje no Vaticano e recebo as Cartas Credenciais que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Cabo Verde junto da Santa Sé, constituindo mais um elo na sucessão de Representantes do seu País, com a insigne missão de manter e estreitar as relações entre a Sé Apostólica e a sua Nação, objecto da minha solicitude e afecto de Pastor.

Quero, em primeiro lugar, manifestar o meu agradecimento pelas deferentes palavras que me dirigiu, dando voz aos nobres sentimentos de proximidade e adesão à Sé de Pedro que se abrigam no coração da grande maioria dos seus concidadãos, como pude experimentar durante a minha Viagem Apostólica de 1990 e, de algum modo, reviver na grata visita que o Senhor Presidente da República, António Mascarenhas Monteiro, me fez recentemente. Aproveito esta significativa ocasião para, na pessoa de Vossa Excelência, saudar calorosamente o povo cabo-verdiano, empenhado na construção duma sociedade que corresponda às suas aspirações. Peço a Deus que abençoe os esforços de todos na edificação dum país cada vez mais digno e próspero.

Como é do conhecimento de Vossa Excelência, a missão da Igreja é essencialmente religiosa; as suas relações diplomáticas com as diversas nações visam responder à necessidade premente, a nível internacional, de afirmação e revigoramento da unidade da família humana. O Concílio Vaticano II ensina que « promover a unidade é efectivamente algo que se harmoniza com a missão essencial da Igreja » (Gaudium et Spes, 42), que é a de ser instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano » (Lumen Gentium, 1).

No desempenho desta missão, a Santa Sé não cessa de apelar para uma ordem mundial mais justa, inspirada por uma verdadeira solidariedade, necessária para sustentar o desenvolvimento dos países que procuram resolver as dificuldades resultantes das condições desfavoráveis em que se encontram, como no caso da seca, referido por Vossa Excelência, que está assolando o seu país. A recente Cimeira Mundial sobre a Alimentação, promovida pela FAO, deixou clara a vontade política dos Governos em darem-se as mãos para superar as graves emergências que põem em causa a sobrevivência de populações inteiras. Possa a Comunidade Internacional, em nome daquele espírito de uma única e grande família que é a humanidade, honrar os compromissos assumidos, desencadeando uma fecunda permuta de dons onde sejam contempladas, ou melhor, privilegiadas as nações mais desfavorecidas, facto esse que há-de redundar, em última análise, no bem-estar de todos! Realmente, « é do próprio interesse das nações ricas optarem pelo caminho da solidariedade, porque só assim será possível garantir à humanidade paz e harmonia duradouras » (Ecclesia in Africa, 114).

O citado espírito de família, propiciador de dias mais serenos e benignos para a humanidade, sobressai nas palavras que dirigi à Assembleia Geral das Nações Unidas, no ano passado: « O conceito de "família" evoca imediatamente algo que vai para além de simples relacionamentos funcionais ou mera convergência de interesses. A família é, por sua natureza, uma comunidade fundada sobre a confiança recíproca, o sustento mútuo e o respeito sincero. Numa autêntica família, não existe o domínio dos fortes; pelo contrário, os membros mais fracos são, devido à sua debilidade, duplamente acolhidos e servidos. Transferidos para o nível da "família das nações", estes são os sentimentos que devem tecer, mesmo antes do simples direito, as relações entre os povos (Mensagem à Assembléia da ONU pelo 50º aniversário de fundação 14, 5 de Outubro de 1995) para que a comunidade internacional possa aspirar, com fundada esperança, a ver sanadas as chagas que ainda sangram na própria carne de inúmeros seres humanos.

Senhor Embaixador, passando do âmbito da « família das nações » ao seu paradigma e inspiração, ou seja, às famílias da nação, recordo como a Assembleia do Sínodo dos Bispos para a África, realizada em 1994, pôs a descoberto que, neste Continente « de modo particular, a família representa a base sobre a qual está construído o edifício da sociedade », (Ecclesia in Africa, 80) especificando que a mesma « possui vínculos vitais e orgânicos com a sociedade, porque constitui o seu fundamento e alimento continuo, mediante o dever de serviço à vida: saem, de facto, da família os cidadãos, e é na família que eles encontram a primeira escola daquelas virtudes sociais, que são a alma da vida e do desenvolvimento da mesma sociedade. Assim, por força da sua natureza e vocação, longe de fechar-se em si mesma, a família abre-se às outras famílias e à sociedade, assumindo a sua tarefa social » (Ecclesia in Africa, 85). Eis a razão por que a Igreja em Cabo Verde, como aliás por toda a terra, tem tão a peito a defesa da família: salvaguardando a célula primordial da sociedade, concorre para evitar a desintegração desta. Posso assegurar-lhe que os católicos cabo-verdianos continuam determinados a colaborar para o bem-estar nacional, não obstante os atentados vandálicos contra símbolos religiosos, que infelizmente se têm repetido por mãos anónimas.

Quando, depois, se reconhece, como justamente o faz o Senhor Embaixador, que o seu País « tem crescido sempre suportado por uma cultura estruturada na base de princípios e valores cristãos », é lícito esperar que o modelo de família assente na unidade e indssolubilidade do matrimónio seja privilegiado como garantia da estabilidade e solidez da vida social da nação. O Concilio Vaticano II lançou este apelo: « Que o poder civil considere como um dever sagrado reconhecer a verdadeira natureza do matrimónio e da família, protegê-los e fazê-los progredir, defender a moralidade pública e favorecer a prosperidade doméstica » (Gaudium et Spes, 52). Um ordenamento jurídico, que tutele convenientemente a família, terá repercussões positivas no bem comum, fazendo com que esta instituição continue a ser o núcleo sobre o qual se funda a sociedade.

Senhor Embaixador!

Ao concluir este encontro, formulo votos cordiais por que a sua alta missão, hoje iniciada, lhe proporcione muitas satisfações no desempenho da mesma. A Deus Todo-poderoso confio a sua pessoa e os que lhe são caros, o Senhor Presidente da República e quantos estão ao serviço do querido povo de Cabo Verde, que Vossa Excelência tem a honra, a partir de agora, de representar junto da Santa Sé.


*Insegnamenti di Giovanni Paolo II, vol. XIX, 2 pp.996-999.

L' Osservatore Romano13.12. 1996 p.9.

 

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