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MENSAGEM DO PAPA LEÃO XIV
AOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO DE SACERDOTES, RELIGIOSAS, RELIGIOSOS E SEMINARISTAS LATINO-AMERICANOS 

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Amados irmãos e irmãs!

Quando Jesus Cristo chamou os seus discípulos, quase invariavelmente utilizou a palavra «Segue-me». Nesta breve palavra podemos encontrar a finalidade mais profunda da nossa vida, como seminaristas, sacerdotes e membros da vida consagrada.

Se relermos os textos evangélicos sobre o chamamento, a primeira coisa que constatamos é a iniciativa absoluta do Senhor. Ele chama-os, sem qualquer mérito prévio por parte dos seus interlocutores (cf. Mt 9, 9; Jo 1, 43) e considerando sobretudo que a vocação a que os chama é uma oportunidade para levar a mensagem evangélica aos pecadores e aos frágeis (cf. Mt 9, 12-13). Desta forma, os seus discípulos tornam-se instrumentos do desígnio de salvação que Deus tem para todos os homens (cf. Jo 1, 48).

Ao mesmo tempo, o Evangelho exorta-nos a tomar consciência do compromisso que implica responder a esta vocação. Fala-nos de algumas exigências que podemos identificar na chamada frustrada do jovem rico (cf. Mt 19, 21): a exigência da primazia absoluta de Deus, o único que é bom (v. 17); a exigência da necessidade imperiosa do conhecimento teórico e prático da lei divina (vv. 18-19) e a exigência do desapego de toda a segurança humana, com a consequente oferta de tudo o que somos e de tudo o que temos (v. 21).

Na sua exegese do surpreendente trecho do jovem a quem Jesus não permite enterrar o pai (cf. Lc 9, 59), Santo Ambrósio afirma que, com esta exigência de deixar tudo — até o que é por si só justo — o Senhor não tenciona eludir os deveres naturais, sancionados pela lei de Deus, mas abrir os nossos olhos para uma nova vida. Nela, nada pode ser anteposto a Deus, nem sequer aquilo que até então conhecíamos como bom, e isto implica a morte ao pecado e ao velho homem mundano. Tudo isto «com o objetivo de ser um só ao lado do Deus Todo-Poderoso e poder ver o seu Filho unigénito» (cf. Exposição do Evangelho segundo Lucas, n. 40).

Para Ambrósio, esta união indispensável com Jesus, longe de nos afastar do irmão, traduz-se em comunhão com os outros. Não caminhamos na solidão, fazemos parte de uma comunidade. Não nos unem laços de simpatia, interesses comuns ou conveniência mútua, mas a pertença ao povo que o Senhor adquiriu ao preço do seu Sangue (cf. 1 Pd 1, 18-19).  A nossa união tende para um valor escatológico que se realizará quando imitarmos «a unidade da paz eterna com uma concórdia indestrutível de almas e numa aliança sem fim», e realizarmos «o que nos prometeu o Filho de Deus quando elevou ao Pai esta oração: “Que todos sejam um, como nós somos um” (Jo 17, 21)» (cf. Exposição do Evangelho segundo Lucas, n. 40).

Concluindo, no Evangelho de São João, Jesus repete duas vezes ao apóstolo Pedro a frase «Segue-me». Fá-lo num contexto muito diferente, a Ressurreição, logo após a tríplice confissão de amor que Pedro faz em reparação do seu pecado. Embora tenha confessado o seu amor, o apóstolo não compreendia plenamente o mistério da cruz, mas o Senhor já tinha em mente o sacrifício com que Pedro daria glória a Deus, e repete-lhe: «Segue-me» (Jo 21, 19). Quando, ao longo da vida, o nosso olhar se turvar, como aconteceu com Pedro, no meio da noite e através das tempestades (cf. Mt 14, 25.31), será a voz de Jesus que nos sustentará com paciência amorosa.

A segunda vez que Jesus diz a Pedro «Segue-me», assegura-nos que o Senhor conhece a nossa fragilidade e que, muitas vezes, não é a cruz que se impõe a nós, mas o nosso próprio egoísmo, que se torna motivo de tropeço no nosso desejo de o seguir. O diálogo com o apóstolo mostra-nos com que facilidade julgamos o irmão e até mesmo Deus, sem acolher com docilidade a sua vontade na nossa vida. Também aqui o Senhor repete-nos com constância: «Que te importa? Segue-me!» (Jo 21, 22).

Irmãos e irmãs, visto que vivemos numa sociedade do ruído que confunde, hoje mais do que nunca são necessários servos e discípulos que anunciem o primado absoluto de Cristo e que tenham o tom da sua voz muito claro nos ouvidos e no coração. Este conhecimento teórico e prático da Lei divina é alcançado, antes de tudo, graças à leitura das Sagradas Escrituras, meditada no silêncio da oração profunda, do acolhimento reverente da voz dos pastores legítimos e do estudo atento dos numerosos tesouros de sabedoria que a Igreja nos oferece.

Entre alegrias e dificuldades, o nosso lema deve ser: se Cristo passou por isto, também nós devemos viver o que Ele viveu. Não podemos agarrar-nos aos aplausos, pois o seu eco dura pouco; e também não é saudável limitar-se apenas à lembrança do dia da crise, ou dos momentos de amarga desilusão. Pelo contrário, consideremos tudo isto como parte da nossa formação, dizendo: se Deus quis isto para mim, também eu o quero (cf. Sl 40, 8). O vínculo profundo que nos une a Cristo, como sacerdotes, consagrados ou seminaristas, é semelhante ao que se diz aos cônjuges cristãos no dia do seu casamento: «Na saúde e na doença», na pobreza e na riqueza (Rito do matrimónio, 66).

Que a Bem-Aventurada Virgem Maria de Guadalupe, Mãe do verdadeiro Deus por quem vivemos, nos ensine a responder com coragem e a conservar no coração as maravilhas que Cristo realizou em nós, a fim de podermos, sem hesitação, ir anunciar a alegria de o ter encontrado, de sermos um só n’Aquele que é Um e pedras vivas de um templo para a sua glória. Que Maria Santíssima ampare a vossa passagem por Roma, intercedendo por vós, para que tudo o que assimilardes em Roma seja fecundo na vossa missão. Deus vos abençoe!

Vaticano, 9 de dezembro de 2025, memória de São Juan Diego.

Leão PP. XIV

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L'Osservatore Romano