VIAGEM APOSTÓLICA À ESPANHA
31 DE OUTUBRO - 9 DE NOVEMBRO DE 1982
VISITA DO PAPA JOÃO PAULO II
À SEDE DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO
Madrid, 2 de Novembro de 1982
Senhor Secretário-Geral
Senhoras e Senhores
Aceitei com prazer o amável convite para visitar a sede da Organização Mundial do Turismo, encarregada de promover o turismo, a fim de facilitar a compreensão entre os povos e também a paz, dentro do respeito dos direitos e da liberdade do homem, sem distinção de raça, língua ou religião (cf. Estatuto da OMT, n. 3).
Apraz-me a dinâmica actividade que esta Organização realiza em favor dos interesses turísticos dos Países em vias de desenvolvimento, para promover neles um turismo que se traduza em elevação social das suas populações e em crescimento cultural para os visitantes. Função complexa e delicada, se se quer assegurar um desenvolvimento do fenómeno em dimensão humana, e que salvaguarda as tradições das diversas civilizações. Tal tipo de turismo será um instrumento privilegiado para reforçar e multiplicar as relações mútuas que enriquecem a comunidade humana (Gaudium et spes, 61). E ajudará a estabelecer esses vínculos de solidariedade, dos quais o mundo actual, perturbado pelas guerras, tanta necessidade tem.
Mérito vosso é ter sabido indicar, com a colaboração das delegações de mais de cem Países, as características necessárias para favorecer um melhoramento de qualidade do turismo. A Declaração de Manila (1980) pode muito bem ser considerada como um marco essencial na história do turismo.
Um perigo na expansão do fenómeno turístico é o facto do seu desenvolvimento ser motivado por meras preocupações económicas — descuidando o seu aspecto cultural e o devido respeito à ecologia — ou pela tendência de matar o tempo, em vez de ser uma pausa reparadora das forças psicofísicas dispendidas no trabalho. Perante isto deve-se procurar superar estes factos negativos, para favorecer os valores potenciais positivos do turismo (cf. Directório Geral para a Pastoral do Turismo, Peregrinans in terra, 8-12).
Mas não basta. Com efeito, o fundamento na fenomenologia do turismo é reconhecer o homem como sua causalidade final: "o homem contemporâneo na sua única e singular realidade humana" (Redemptor hominis, 13), na plena verdade da sua existência, do seu ser pessoal e do seu ser comunitário (cf. ib., 14); numa palavra, o homem na dignidade da sua pessoa. Porque quando se quer valorizar o "social", convém ter presente que o "social" está contido no "humano".
Recordar, como se ratificou na 'Reunião Mundial" de Acapulco (1982), que o homem não deve cair em manipulações interessadas, mas ser o "protagonista das suas vocações", não é um sonho nem uma utopia. Significa pôr no centro o elemento sem o qual a indústria do turismo entraria em contradição com uma humanidade a qual pretendera ajudar. Por outras palavras, se o turismo é um direito, é também verdade que é praticado pelo homem e implica a sua acção. Mais do que um simples descanso ou uma espécie de evasão, é para o homem uma actividade compensadora que deve ajudar a "recriar-se" através de novas experiências, derivadas de opções rectas e livres.
Daí a necessidade de uma formação adequada tanto do turista como dos operadores turísticos a cuja honestidade e capacidade se confia, assim como daquele que oferece a hospitalidade. Como todo o desenvolvimento social, também o do turismo, nas suas diversas formas, exige um desenvolvimento proporcional da vida moral. Foi por conseguinte um acto coerente por parte da vossa Organização ter discutido e recomendado a exigência de uma preparação efectiva, apelando para a responsabilidade de todos os educadores, sem a qual o turismo pode precipitar numa forma moderna de alienação, com esbanjamento de dinheiro e de tempo, em vez de ser um meio de aperfeiçoamento integral da pessoa.
No que se refere ao trabalho, justamente considerado como pressuposto necessário do turismo, não é a única fonte de valores éticos. Também o tempo livre — e por conseguinte o turismo enquanto sua componente principal — é uma possibilidade integradora; e se é bem aproveitado, transforma-se, para a pessoa, em capacidade de auto-educação e de cultura; portanto o turismo, por si mesmo, é um valor e não um facto banal de consumismo.
Perante um fenómeno social de tanta amplidão e complexidade, não se pode estranhar o interesse que a Santa Sé tem por ele. A Igreja, de facto, não é uma sociedade fechada, mas que possui o sentido do multiplicar-se das formas culturais. Ela move-se dia a dia até à Parusia, em continuo "espírito novo" (Rom 7, 6). Por isso quer servir o homem tal como se apresenta no contexto das realidades da civilização actual. Para o acompanhar nas suas rápidas mudanças (cf. Gaudium et spes, 2, 3; 54; 55; Peregrinans in terra, 1) com amor e esperança num futuro melhor, no qual os povos se reconheçam mais irmãos, graças à paz que pressupõe e favorece um turismo bem vivido.
Senhores: segundo Platão, o universo que vemos é uma grande sombra que anuncia o sol que está por detrás. Oxalá a vossa concorde actividade ajude a humanizar cada vez mais o turismo! E também a habilitar os homens para saberem intuir, mais para além das sombras do nosso século, o verdadeiro Sol de verdade e de justiça, de amor e de imortalidade que, projectando-se no espaço, o ilumina e espera todos no seu mistério infinito.
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