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Queridos irmãos e irmãs,

No final destes dias intensos, que com alegria partilhámos, celebremos a nossa ação de graças ao Senhor por tantos dons da sua bondade, pela forma como se faz presente entre nós, pela Palavra que nos oferece em abundância e por tudo o que nos possibilitou viver juntos.

Como acabámos de ouvir no Evangelho, também Jesus tem palavras de gratidão para o Pai e, ao dirigir-se a Ele, reza dizendo: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra» (Lc 10, 21).

Porém, a dimensão do louvor nem sempre encontra lugar dentro de nós. Às vezes, sobrecarregados pelas dificuldades da vida, preocupados com os inúmeros problemas que nos cercam, paralisados pela impotência diante do mal e oprimidos por tantas situações difíceis, inclinamo-nos mais à resignação e à lamentação do que ao deslumbramento do coração e à gratidão.

É precisamente a vós, querido povo libanês, que dirijo o convite a cultivar sempre atitudes de louvor e gratidão. A vós que sois destinatários de uma rara beleza com a qual o Senhor enriqueceu a vossa terra e que, simultaneamente, sois espectadores e vítimas do modo como o mal, de múltiplas formas, pode ofuscar esta magnificência.

Desde esta esplanada com vista para o mar, também eu posso contemplar a beleza do Líbano cantada pelas Escrituras. O Senhor plantou aqui os seus altos cedros, alimentando-os e saciando-os (cf. Sl 104, 16), perfumou as vestes da noiva do Cântico dos Cânticos com o aroma desta terra (cf. Ct 4, 11) e, em Jerusalém, cidade santa revestida de luz pela vinda do Messias, Ele anuncia: «A glória do Líbano virá sobre ti, com o cipreste, o abeto e o pinheiro, para adornar o lugar do meu santuário, e mostrar a glória do trono em que me sento» (Is 60, 13).

Ao mesmo tempo, todavia, essa beleza é obscurecida pela pobreza e pelo sofrimento, pelas feridas que marcaram a vossa história – acabei de rezar no local da explosão, no porto – e por tantos problemas que vos afligem; também por um contexto político frágil e muitas vezes instável, pela dramática crise económica que vos oprime, pela violência e pelos conflitos que despertaram antigos medos.

Num cenário como este, a gratidão facilmente dá lugar ao desencanto, o canto de louvor não encontra espaço na desolação do coração, a fonte da esperança seca devido à incerteza e à desorientação.

No entanto, a Palavra do Senhor convida-nos a encontrar pequenas luzes brilhantes no coração da noite, tanto para nos abrir à gratidão como para nos impelir ao compromisso comum em favor desta terra.

Como ouvimos, o motivo do agradecimento de Jesus ao Pai não é por ações extraordinárias, mas por Ele revelar a sua grandeza justamente aos pequenos e aos humildes, àqueles que não chamam a atenção, que parecem contar pouco ou nada e que não têm voz. Com efeito, o Reino que Jesus vem inaugurar tem exatamente esta característica de que nos falou o profeta Isaías: é um rebento, um renovo que surge num tronco (cf. Is 11, 1), uma pequena esperança que promete o renascimento quando tudo parece morrer. Assim é anunciado o Messias e, vindo na pequenez de um rebento, só pode ser reconhecido pelos pequenos, por aqueles que, sem grandes pretensões, sabem identificar os pormenores escondidos, os traços de Deus numa história aparentemente perdida.

É também uma indicação para nós, a fim de que tenhamos olhos capazes de reconhecer a pequenez do rebento que brota e cresce mesmo dentro de uma história dolorosa. Pequenas luzes que brilham na noite, pequenos rebentos que brotam, pequenas sementes plantadas no jardim árido deste tempo histórico, podemos vê-los também nós, também aqui, também hoje. Penso na vossa fé simples e genuína, enraizada nas vossas famílias e alimentada pelas escolas cristãs; penso no trabalho constante das paróquias, das congregações e dos movimentos para irem ao encontro das exigências e das necessidades das pessoas; penso em tantos sacerdotes e religiosos que se doam na sua missão, no meio de múltiplas dificuldades; penso nos leigos empenhados no campo da caridade e na promoção do Evangelho na sociedade. Por estas luzes que se esforçam por iluminar a escuridão da noite, por estes pequenos e invisíveis rebentos que, no entanto, abrem a esperança no futuro, hoje devemos dizer como Jesus: “Nós vos bendizemos, ó Pai!”. Nós vos agradecemos porque estais conosco e não nos deixais vacilar.

Ao mesmo tempo, essa gratidão não deve permanecer uma consolação intimista e ilusória. Deve levar-nos à transformação do coração, à conversão da vida, a considerar que é precisamente à luz da fé, sob promessa da esperança e na alegria da caridade que Deus concebeu a nossa vida. Por isso, todos nós somos chamados a cultivar estes rebentos, sem desanimar, sem ceder à lógica da violência e à idolatria do dinheiro e sem nos resignarmos perante o mal que alastra.

Cada um deve fazer a sua parte e todos devemos unir esforços para que esta terra possa voltar ao seu esplendor. E temos apenas uma maneira de o fazer: desarmemos os nossos corações, derrubemos as armaduras dos nossos fechamentos étnicos e políticos, abramos as nossas confissões religiosas ao encontro recíproco, despertemos no nosso íntimo o sonho de um Líbano unido, onde triunfem a paz e a justiça, onde todos possam reconhecer-se irmãos e irmãs e onde, finalmente, se possa realizar o que nos descreve o profeta Isaías: «o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o novilho e o leão comerão juntos» (Is 11, 6).

Este é o sonho que vos foi confiado, é o quanto que o Deus da paz coloca nas vossas mãos: Líbano, levanta-te! Sê casa de justiça e de fraternidade! Sê profecia de paz para todo o Levante!

Irmãos e irmãs, também eu gostaria de repetir as palavras de Jesus: “Bendigo-te, ó Pai”. Elevo ao Senhor a minha gratidão por ter partilhado estes dias convosco, enquanto levo no coração os vossos sofrimentos e esperanças. Rezo por vós, para que esta terra do Levante seja sempre iluminada pela fé em Jesus Cristo, Sol de justiça, e para que, graças a Ele, conserve a esperança que não tem ocaso.

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Apelo ao final da Santa Missa em Beirute

Queridos irmãos e irmãs,

Nestes dias da minha primeira Viagem Apostólica, realizada durante o Ano Jubilar, desejei tornar-me peregrino de esperança no Médio Oriente, implorando a Deus o dom da paz para esta amada terra, marcada pela instabilidade, guerras e sofrimento.

Caros cristãos do Levante, quando os resultados dos vossos esforços pela paz tardarem em chegar, convido-vos a erguer o olhar para o Senhor que vem! Olhemos para Ele com esperança e coragem, convidando todos a trilhar o caminho da convivência, da fraternidade e da paz. Sede construtores da paz, anunciadores da paz, testemunhas da paz!

O Médio Oriente precisa de novas atitudes para rejeitar a lógica da vingança e da violência; para superar as divisões políticas, sociais e religiosas; e para abrir novos capítulos sob o sinal da reconciliação e da paz. O caminho da hostilidade mútua e da destruição no horror da guerra foi percorrido por tempo demais, com resultados deploráveis que estão à vista de todos. É preciso mudar de rumo, é preciso educar o coração para a paz.

Desde esta praça, rezo pelo Médio Oriente e por todos os povos que sofrem por causa da guerra. Também rezo com esperança por uma solução pacífica para as controvérsias políticas na Guiné-Bissau. E não esqueço as vítimas do incêndio em Hong Kong e os seus familiares.

Rezo especialmente pelo amado Líbano! Peço novamente à comunidade internacional que não poupe esforços na promoção de processos de diálogo e reconciliação. Dirijo um sincero apelo a todos aqueles que detêm autoridade política e social, aqui e em todos os países marcados pela guerra e violência: ouvi o grito dos vossos povos que clamam por paz! Coloquemo-nos todos ao serviço da vida, do bem comum, do desenvolvimento integral das pessoas.

Finalmente, dirijo-me aos cristãos do Levante, cidadãos de pleno direito destas terras. A vós, eu repito: coragem! Toda a Igreja olha para vós com carinho e admiração. Que a Bem-aventurada Virgem Maria, Nossa Senhora do Líbano, vos proteja sempre.