39
que os olhos se habituam a ver em profundidade.
E assim, na manhã de Páscoa, de João â que,
ainda na escuridão perante o túmulo vazio, « viu
e começou a crer » (
Jo
20, 8) â passa-se a Maria
Madalena â que já vê Jesus (cf.
Jo
20, 14) e quer
retê-Lo, mas é convidada a contemplá-Lo no seu
caminho para o Pai â até à plena confissão da
própria Madalena diante dos discÃpulos: «Vi o
Senhor! » (
Jo
20, 18).
Como se chega a esta sÃntese entre o ouvir e
o ver? A partir da pessoa concreta de Jesus, que
Se vê e escuta. Ele é a Palavra que Se fez carne e
cuja glória contemplámos (cf.
Jo
1, 14). A luz da
fé é a luz de um Rosto, no qual se vê o Pai. De
facto, no quarto Evangelho, a verdade que a fé
apreende é a manifestação do Pai no Filho, na
sua carne e nas suas obras terrenas; verdade essa,
que se pode definir como a « vida luminosa » de
Jesus.
24
Isto significa que o conhecimento da fé
não nos convida a olhar uma verdade puramente
interior; a verdade que a fé nos descerra é uma
verdade centrada no encontro com Cristo, na
contemplação da sua vida, na percepção da sua
presença. Neste sentido e a propósito da visão
corpórea do Ressuscitado, São Tomás de Aquino
fala de
oculata fides
(uma fé que vê) dos Apósto-
los:
25
viram Jesus ressuscitado com os seus olhos
24
âÂÂCf. H
einrich
S
chlier
, «Meditationen über den Jo-
hanneischen Begriff der Wahrheit », in:
Besinnung auf das Neue
Testament. Exegetische Aufsätze und Vorträge 2
(Friburgo, Basel,
Viena 1959), 272.
25
âÂÂCf.
Summa theologiae
, III, q. 55, a. 2, ad 1.