34
afectividade, mas para a abrir à pessoa amada, e
assim iniciar um caminho que faz sair da reclusão
no próprio eu e dirigir-se para a outra pessoa, a
fim de construir uma relação duradoura; o amor
visa a união com a pessoa amada. E aqui se ma-
nifesta em que sentido o amor tem necessidade
da verdade: apenas na medida em que o amor es-
tiver fundado na verdade é que pode perdurar no
tempo, superar o instante efémero e permanecer
firme para sustentar um caminho comum. Se o
amor não tivesse relação com a verdade, estaria
sujeito à alteração dos sentimentos e não supe-
raria a prova do tempo. Diversamente, o amor
verdadeiro unifica todos os elementos da nossa
personalidade e torna-se uma luz nova que apon-
ta para uma vida grande e plena. Sem a verdade,
o amor não pode oferecer um vÃnculo sólido, não
consegue arrancar o « eu » para fora do seu iso-
lamento, nem libertá-lo do instante fugidio para
edificar a vida e produzir fruto.
Se o amor tem necessidade da verdade, tam-
bém a verdade precisa do amor; amor e verdade
não se podem separar. Sem o amor, a verdade
torna-se fria, impessoal, gravosa para a vida con-
creta da pessoa. A verdade que buscamos, a ver-
dade que dá significado aos nossos passos, ilumi-
na-nos quando somos tocados pelo amor. Quem
ama, compreende que o amor é experiência da
verdade, compreende que é precisamente ele que
abre os nossos olhos para verem a realidade in-
teira, de maneira nova, em união com a pessoa
amada. Neste sentido, escreveu São Gregório