MENSAGEM VÍDEO DO PAPA FRANCISCO
PARA AS SCHOLAS OCCURRENTES DE BUENOS AIRES
Queridos jovens de Scholas, hoje aqui reunidos!
Desejo celebrar juntamente convosco esta festa de encontro, encontro de pessoas: cada um de vós é pessoa. Encontro de diferentes credos, países, línguas e realidades: encontro de diferentes identidades, pois para se encontrar é preciso ter a certeza da própria identidade. Não podes ir negociando a tua identidade para encontrar o outro, não podes maquilhar a tua identidade, não a podes mascarar, porque a vida não é um carnaval, é uma corrida muito séria. E um encontro deve ser sério, com muita alegria, mas sério no coração.
A palavra identidade não é fácil. É a pergunta do “quem sou eu”. E é uma das perguntas mais importantes que nos podemos fazer: diante de si mesmos, diante dos outros, diante de Deus, diante da história. Quem sou eu?
É a questão que acompanha a pergunta acerca do sentido da própria vida, quem sou eu e que sentido tem a minha vida. Mas atenção, não é uma pergunta que devemos afastar de nós, nem uma questão à qual responder rapidamente ou esquecer. É uma pergunta que se deve manter sempre, sempre. Devemos mantê-la aberta, próxima. Eu, quem sou?
A nossa identidade não é um facto que é concedido, não é um número de fabrico, não é uma informação que posso procurar na internet para saber quem sou. Não somos algo totalmente definido, estabelecido. Estamos a caminho, estamos em crescimento, e este núcleo de identidade vai crescendo, crescendo, e nós estamos a caminho; estamos a crescer com um estilo próprio, com uma história pessoal, com este núcleo de identidade próprio. Somos testemunhas, somos redatores e leitores da nossa vida e não somos os seus únicos autores: somos aquilo que Deus sonha para nós, somos aqueles que nos contamos, aqueles que nos contamos de novo, aqueles que os demais nos contam, a pacto de que sejamos fiéis. Fiéis à nossa integridade pessoal, fiéis à nossa nobreza interior, fiéis a uma palavra da qual as pessoas têm medo: fiéis à coerência. Não existem identidades de laboratório, não existem. Cada identidade tem história. E tendo história, tem pertença. A minha identidade vem de uma família, de um povo, de uma comunidade. Não podeis falar de identidade sem falar de pertença. Identidade significa pertencer. Pertencer é algo que te transcende, é algo maior do que tu.
O perigo, muito presente nestes tempos, é quando uma identidade se esquece das suas raízes, se esquece de onde vem, se esquece da sua história, não se abre à diferença da atual convivência; vê o outro com receio, vê-o como inimigo, e ali começa a guerra. É suficiente ler um jornal ou ouvir um telejornal: guerra pequena, no início, quase imperceptível, mas grande e terrível no final. Por isso, para que a identidade não se torne violenta, não se torne autoritária, não seja negadora da diferença, precisa constantemente do encontro com o outro, tem necessidade do diálogo, precisa de crescer em cada encontro e da memória da própria pertença. De onde venho? Quais são as minhas raízes? Qual é a cultura do meu povo? Não existem identidades abstratas. Bom, haveria uma, é o bilhete de identidade, que é um pedaço de papel. Mas não serve, não te faz crescer. No máximo deixar-te-á tranquilo quando alguém da segurança o pedir: “Muito bem, pode ir”. Não há identidades de laboratório, nem identidades fixas. Quem sou?, cada um de nós deve fazer-se novamente esta pergunta. Recriemo-nos no caminho, cresçamos no caminho, com a memória, com o diálogo, com a pertença e com a esperança. E assim, enriquecer-nos-emos cada dia mais.
Identidade e pertença. Por favor, cuidai-as, cuidai a vossa pertença. Não vos deixeis manipular. Cuidai a vossa pertença. Até quando vemos entre nós pessoas que nada respeitam. Quantas vezes ouvimos dizer: «não confies em fulano pois até venderia a sua mãe». Cada um se questione: Vendo a minha pertença? Vendo a história do meu povo? Vendo a cultura do meu povo? Vendo a cultura e aquilo que recebi da minha família? Vendo a coerência de vida? Vendo o diálogo com o irmão, mesmo se tem ideias diferentes, ou faço de contas que dialogo? Não vendais a nossa parte mais profunda, que é a pertença, a identidade, que no caminho se faz encontro de identidades diferentes para se enriquecerem reciprocamente. Faz-se fraternidade.
Desejo agradecer a todos os que tornaram possível este encontro: pais e professores de cada um; por o terdes permitido e por terdes participado nele; às autoridades, por terem aberto a porta e tornado possível a experiência; às escolas Ort e a todas as comunidades religiosas por terem enriquecido, a partir da diversidade, a narração deste encontro e de cada um. E desejo agradecer a vós, jovens de Scholas, por deixardes que a vida vos conte um novo capítulo, passo após passo. Não tenhais medo disto. Porque tendes a coragem de misturar as vossas linguagens, de abrir as vossas histórias sem renunciar a elas, de vos deixardes reescrever pelo outro, pelo diverso, pelo desconhecido, permanecendo sempre diversos e, ao mesmo tempo, cada vez mais vós mesmos. E fazendo da vossa identidade, desta pertença que recebestes, uma obra de arte. É isto que vos desejo. E por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado.
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